Noite após noite me habituei a não sonhar, meu
inconsciente se matinha em segredo que ainda não poderia ser revelado para mim
mesmo.
Talvez pensamentos obscuros, memórias de um passado
atormentador, cenas de uma realidade que escondi para não sofrer ou apenas
distúrbios de sono, não sabia por que não sonhava, simplesmente não sonhava.
Nada de anormal naquela noite tudo estava como
sempre foi, vida pacata, trabalho sossegado e pensamentos em inercia.
Na noite em questão acordei subitamente, ao olhar no
relógio vi no marcador digital serem três horas da noite, fui ate o banheiro
lavei o rosto e retornei para cama esperando voltar ao meu tranquilo descanso
noturno.
Apenas pensei, naquele momento meus pensamentos não
estavam mais em inércia, revoados e atormentados se mantinham meus pensamentos,
meus olhos vidrados ao nada eu estava refazendo meu sonho.
Assustado e nervoso, mas realizado, pois de fato eu
poderia sonhar, fiz um grande esforço para lembrar tal sonho e descobrir o que
de mim por tanto tempo foi escondido.
No sonho nada de especial ou grandioso, era apenas
um par de olhos refletidos em uma poça de água de um dia cinzento, onde a única
cor presente era o tom esverdeado daquele misterioso olhar, era apenas eu e os
olhos, não conseguia identificar de quem pertencia aquelas duas esmeraldas com
capacidade de ver, não importava o que fazia era apenas os olhos que podia ver.
Eram lindos olhos de verde profundo, tímidos e
sinceros de uma calma sem fim.
Não dormi mais naquela noite, apenas pensando em
tais olhos, no outro dia me esforcei para retornar aquele sonho e poder
identificar de quem era aquele olhar de brilho raro.
Ao dormir estava diante deles novamente, mas apenas
os olhos, sempre eles, agora refletidos no retrovisor de um carro preto, o que
aquilo significava? Nada ou tudo, ao que parecia eu estava apaixonado por olhos
desconhecidos que existiam ou não.
Noite após noite aquele olhar me atormentava e
durante o dia eu o perseguia, era uma busca por olhos que não conhecia.
Esquinas, becos sujos, grandes centros, cidades
pequenas... Minha vida se resumia a busca que poderia nunca ter um fim ou teria
apenas quando os meus olhos parassem de ver.
De um simples sonho onde olhos mudos falavam mais
que mil bocas juntas e de palavras silenciosas, mas sempre doces e verdadeiras,
eu tornei aquele olhar minha obsessão, transformei em minha vida aquilo que por
anos escondi em lugares escuros de meu inconsciente.
O fim de minha busca chegou mais cedo do que eu
pensava e sem gloria ou olhar alcançado, minha busca não teve fim com minha
morte ao menos não total, aquela busca pelo olhar de esmeralda teve seu fim em
uma noite muito parecida com a que aqueles olhos foram revelados a mim.
Minha busca teve seu fim quando eu parei de sonhar e
o verde reluzente do olhar misterioso, tornou-se novamente apenas escuridão
noturna, ao certo o olhar retornou ao fundo do poço de meus pensamentos em
inercia.
Novamente sem olhos e sem sonhos.
Alguns dias depois em qualquer fila, de banco ou
algum restaurante não lembro bem, me deparei com aquilo que tanto busquei e por
fim tinha esquecido os olhos, aqueles olhos que tanto busquei e sempre fugiram.
Estavam agora diante de mim aqueles olhos, agora não
somente eles eram uma boca de fino traço manchada por um batom de cor discreta,
olhos contornados e realçados por linhas escuras, cabelos negros e curtos, os
olhos de esmerada não eram apenas olhos.
Era uma boca, nariz, orelhas, cabelo, olhos... O tom
esverdeado não estava sozinho e a partir daquele momento nem eu, agora não
precisava sonhar, pois minha realidade tornou-se meu sonho e meu sonho minha
realidade.
Muito lindo e profundo, adorei!
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