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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sobre os Aviões e as Bombas

No folhetim sangue e destroços
de uma pátria que chora
contando seus mortos
e condecorando seus heróis

Cinquenta e tantos anos antes
que tanto faz
como uma bomba que cai
passado contaminado é esquecido

No local do desastre
memorial pelas  vidas perdidas
flores e velas
uma eterna despedida

Duas cidades arrasadas
sem lembranças
nem almas perdidas
esquecidas pela glória vencida

Na televisão pronunciamento Mr. President 
não esqueceremos, então

Em filmes apenas mentiras
com belas coreografias

Das torres quase idênticas
restou o pó
lembranças de sangue
e claro os heróis

Das cidades quase idênticas
restou o medo
consequências e corpos desnudos
ainda sem covas.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sobre o Louco que Dançava com a Chuva

-Porcaria de tempo, poderia ao menos esperar até eu chegar em casa não é...Droga de chuva.
A mulher bem arrumada reclama, olha para o céu enquanto fala assim como quem discute com Deus ou com as nuvens.

-Vou  estragar meus sapato novos... Droga de chuva.
Diz assim o rapaz passando a mão em seus belos sapatos lustrados.

Outros nem se dão ao trabalho de reclamar de fato, apenas um sussurrar entre os dentes e uma virada de olhos.

O céu resplandece em cores platinadas, raios e trovões aquela cosia toda, vento levanta poeria, arrasta lixo, descaruma cabelos.

-Lá se vai meu penteado... Droga de chuva.

Recostado na parada um homem sacode um velho guarda-chuva, terno tão velho quanto o mesmo, sapatos surrados, barba por fazer, claro um morador de rua, descuidado homem entregue pela cidade, enregue na vida.

Olhos atentos dos outros ali abrigados da chuva na parada, não dizem nada e nem precisam, seus olhos já estão a julga-lo e seus corpos a se afastar.

O homem nem liga, não observa é como se estivesse só, só na rua inteira, começa a sussurrar algo. uma melodia, balançar as pernas desajeitadamente, para um lado e para o outro, logo o tal guarda-chuva entra no balanço, para lá e para cá.
Os olhos estão voltados a ele.

-Louco, só pode...
-Doente...
-Esses vagabundos...

Ele arrisca cantar em sincronia com seu balançar que melhora quanto mais se mexe...
-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again...

-Louco, só pode...
-Doente...
-Esses vagabundos...
-Acham que a rua é palco agora, vai trabalhar miserável. 

-Ei seu policial, tire esse maluco daqui, ele está jogando água em nós com sua cantoria e sua dança...

-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again
-I'm laughing at clouds
-So dark up above
-The sun's in my heart...

-Vamos circulando, aqui não é lugar para isso...

Ele não responde, apenas canta e dança, segue assim a rua, da parada os outros ainda escutam sua canção se afastando, quanto mais longe ele está menos os pés que estavam discretamente dançando em silêncio, suas bocas sussurravam maldizeres seus olhares desprezo, mas seus pés ahhh estes sabiam dançar.

-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again
...

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sobre os Porcos e Outros Animais

Enjaulados grandes, gordos, sujos animais, dois em um espaço que deveria acomodar um, um dos pequenos vale ressaltar. 
Sem cuidado algum, deitados nas próprias fezes.

-São apenas animais...
Alguém comentou.

Grunhidos se misturam com buzinas, xingamentos, gritos, músicas de uma cidade em movimento.

-Falta agora acender o fogo e trazer as geladas...
Alguém comenta.

Cordão de isolamento, mantendo assim os curiosos um pouco afastados, flashes, comentários, telefonemas.

-Virou sim, aqui na Avenida Tal, chama o pessoal, vamos levar um pra casa...
Ela disse ao telefone.

O sangue começa a escorrer, manchando o asfalto, alguns ainda estão vivos, agonizando, sufocados por outro que já estão mortos.

-Porra, tenho que trabalhar, vão liberar quando a Avenida?
O homem de terno questiona.

Uma multidão se aproxima, estão com facas, fome no olhar e ambições nas mãos, poucos policiais nada podem fazer, alguns são cortados ali  mesmo.

-Mata aquele vivo ali, quero carne fresca, esse que está morto deixa de canto, já tem até moscas.
Aponta a senhora.

Sangue, grunhido, palmas, conversas desconexas, novela, jornal, cadeira de praia, radio no carro.
Um que outro tenta correr, não consegue, Avenida virou açougue.
Chega policia, afastando pessoal, mãos com sangue, pedaços de animais.

-Ninguém passa.
Com a mão na arma o policial informa.

Água no asfalto, cachoeira vermelha até a lateral, pedaços vão junto se perdendo no matagal.
Ao lado do cordão população observa, ainda com facas nas mãos, olhos vidrados por mais um pedaço uma comemoração.

-São apenas animais, tanto faz.
Grita população enfurecida.

-Queremos mais
mais 
mais
são apenas animais...


 

Jornal Popular

Em jornais
folhas e folhas
esculacho popular
continuam a contabilizar os mortos
esquecendo dos que estão a nascer

Páginas policiais
crianças, marginais
entre belos merchandising coloridos
em contraste com o sangue
de mais um na calçada

Dicas para uma barriga sarada
uma receita para sua amada
esporte
novela
alto astral

No zodíaco
sua cor é o amarelo
amizade sincera
amor verdadeiro
mas pouco dinheiro

Coluna social
gente fina, high society
sorrisos de porcelana
deuses, imortais em hospitais particulares
puxa sacos a tiracolo

Em jornais
sangue e social
noticias velhas
acabam limpando bundas
no banheiro público

Outro dia
mais noticias
reprisadas
tão iguais
como as da semana passada.



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Parabéns Pra Você, Blá Blá Blá

-Não é qualquer dia que se faz aniversário não é...
Palavras e um tapinha no ombro.

Pensei em silêncio e respondi em silêncio também.
-Não, claro que não, até onde eu saiba apenas uma vez no ano ou agora estamos na moda de comemorar desaniversário?
Ainda não era o momento de responder a tal pergunta com um doce ironia matinal, então apenas sorri e balancei a cabeça, já estava fazendo muito isso naquele dia.

Fui ao banheiro buscar um pouco de paz, longe dos sorrisos maliciosos acompanhando de um:
-Está ficando mais velho em e essas rugas, um passo mais próximo da sepultura.
Que sempre vinha com aquele maldito tapinha no ombro.

Lavei as mãos, o rosto e observei o espelho, aquela imagem de um ser mais velho...
Será?
Obvio que estava mais velho, cada dia que se passava eu ficava mais velho, caminhava para a morte, que assim seja, estou mais velho que no segundo anterior e no seguinte estarei mais que agora, que doido pensei comigo.

Observei ao espelho, minhas expressões, abria bem os olhos, a boca, repuxava as bochechas e o pescoço, as orelhas também foram analisadas, rugas, poucas, nada de mais, muitas ainda estavam por vir.
O cabelo estava ali, bom ainda, mas por precaução um belo chapéu poderia ficar guardado no armário.
Barriga, essa nunca tive e esperava não ter, apesar dos pesares ainda estava em bom estado.
Um último suspiro, uma piscadinha ao espelho que foi retribuída instantaneamente, secar as mãos e encarar mais falsos sorrisos, palavras vagas, repetidas, aquele clichê todo, blá blá blá, cartilha do bom aniversário, no fim das contas é só mais um dia, são apenas algumas palavras que amanhã não vão fazer sentido algum, ao menos não para mim.



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"...É um banco de sangue encadernado Já vem pronto e tabelado, É somente folhear e usar..."

-Bandido bom é bandido morto...
Grita alguém na multidão, ecoando pela rua, sendo repetida por outras vozes.
-É isso ai mata, espanca... Monstro.
-Monstro...
-Monstro...

No ar em 3, 2, 1...
-Bom dia ao telespectadores do programa da Bom Dia Manhã, eu sou seu correspondente da rua, Alberto Justino, levando a noticia até você.
Parece que teve fim o caso do desaparecimento da menina Cristiane de apenas oito anos, infelizmente não teve o final que se era esperado, o corpo da menina foi encontrado enterrado no quintal, ao saber do fato a população enfurecida tomou a rua em busca do monstro, culpa toda essa recaiu sobre o pai da menina, que foi cercado pelos vizinhos, neste exato momento ele foi amarrado em uma árvore e está sendo espancado, ele grita e grita mais um pouco, mas a população quer justiça pela morte da pequena Cristiane.
Os policiais não conseguem afastar a população, estão em menor número a espera de reforços, contudo estamos vivendo agora um sentimento de agonia e desespero, um sentimento de justiça para com a jovem, inocente e incapaz Cristiane, ao qual repito 8 anos de idade, uma pequena que começa a conhecer o mundo, mas que foi tirada a força por aquele que deveria lhe dar conforto e proteção, é meus amigos de casa o perigo não mora só ao lado, mora dentro de nossa, dormimos muitas vezes com o perigo e nem sabemos.
Veja a policia está chegando, mas esperem parece que estão com um outro meliante no carro, vamos averiguar e já retornamos.

-Mata, mata, MONSTRO...

-Uma reviravolta inesperada meus amigos de casa, parece que o tal homem no carro da policia se trata de Miguel o irmão mais velho da pequena Cristiane, parece que ele assumiu a culpa pelo assassinato, estupro e ocultação do cadáver da pequena e inocente Cristiane, que repito morreu covardemente por aquele que confiava. População se vira contra Miguel, querem justiça como alguns dizem, mas não é justiça isso, deixe a policia as leis cumprirem seus deveres, cidadãos de bem não devem sujar as mãos com o sangue podre deste monstro. Miguel foi levado para a 22ª DP  e lá vai esperar por sua transferência ao presidio da região. Já voltamos com mais informações sobre o caso do Monstro da Baixada.

Já em casa o pai é consolado por sua  esposa e mãe de Cristiane, está no sofá, com dores, parece que foi quebrado algumas costelas, alguns socos e pancadas a mais levariam ele ao caixão.

-Pois estamos no ar mais uma vez meus amigos de casa, estamos aqui com o pai e mãe de Cristiane, José e Antônia, com elusividade vamos conversar com eles sobre está tragédia em sua família, perder sua pequena filha por um de seus, o perigo está mesmo dentro de nossa vida. Acompanhe a entrevista completa no jornal da noite, vamos ter uma edição especial sobre o caso que chocou o Brasil, depoimentos de familiares, de seus pais, vizinhos e coleguinhas de escola e mais ainda vamos falar sobre a quase injustiça cometida com José que por pouco não deixou sua família de desamparada,  não percam, logo mais no Jornal da Noite. Boa Tarde a todos e um forte abraço eu sou Alberto Justino.

-Corta!

-Seu José podemos gravar novamente, poderia o senhor ficar na cama, daria um enfoque maior sobre seus ferimentos e dona Antônia, chora mais querida pode chorar é bom assim damos mais espaço para vocês, chora mais convincente pense nela, nos bons momentos que teve ao lado dela, não muitos né oito anos não se vive muito e nem se vai mais não é, posso arrumar um colírio para ajudar, pega um quadro de sua filha também a morta mesmo e fica agarrada nele, pode ser? Certo então, vamos fazer mais uma vez pessoal, depois almoço.


"...A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.

É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar..."









quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quando o Cotidiano Ficou Mais Interessante que a Poesia ou Um Diálogo ao Espelho

Bom aqui vamos, mais uma vez blá blá blá, vamos encher linhas e linhas de expressões clichês, estava assim por dizer um tanto de canto observando o cotidiano, quando o mesmo se torna mais interessante que a poesia ou melhor estava absorvendo absorto, licença poética que me desculpem os doutores da palavras e do falatório, os senhores da retórica e suas legiões de fãs, curte ai camarada.
O mundo está hostil, sempre foi meu jovem, continua a ser, só piora, contradições, anota ai que falta contradições no mundo e sobram certezas.
Quando o cotidiano se tornou mais interessante do que palavras? Ora ora sempre foi assim e sempre será assim, uma pausa para observar o clima, dar uma respirada sentir as náuseas e deixar o vomito vir, pegue a cadeira mais próxima e sente-se em frente a televisão e seja lobotomizado, bata panelas do sexto andar, estoure um espumante, seja guiado pela massa no fim é só um moedor de carne de qualquer forma.
O mundo como todas as cosias viva esta morrendo, cada segundo que passa, todos estamos morrendo claro a diferença que o Planeta Terra sofre de uma praga que se reproduz em uma velocidade absurda, destrói e constrói, uma infestação de Homo Sapiens, vulgo Idiotacas Modernucus, ser de total destreza e incapa... capacidade de moldar o mundo a suas vontades e não apenas o mundo como todos os que nele estão, amém irmãos.
Quando o cotidiano ficou interessante, sai para rua dar uma espiada, sai da caverna, olhe e voltei, vamos esperar mais alguns anos, séculos talvez, quem sabe um bombinha acabe com tudo mais uma vez ou na melhor das hipóteses um suicídio coletivo.