Powered By Blogger

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Corre, Venha Ver

Corre, venha ver
pegaram um bandido
um ladrão
coisa que cidadão de bem deve fazer

Corre, venha ver
o marginal foi amarrado
no poste da esquina
agora está cercado

Corre, venha ver
esse nego sujo
esse ladrão
esse lixo humano

Corre, venha ver
o cidadão de bem
honesto e trabalhador
espancando quem merece

Corre, venha ver
o sangue escorrer
da cara desse vagabundo
bate mais, bate mais

Corre, venha ver
ele merece
merece morrer
coisa que o cidadão de bem deve fazer

Corre, venha ver
parece que ele morreu
fotos na internet
aplausos na multidão

Corre, venha ver
o exemplo de humanidade
os bons costumes
do cidadão de bem

Corre, venha ver filho
o homem que você deve ser
esqueça nossas leis
jogue tudo no lixo

Suje as mãos de sangue
dos inocentes e dos culpados
que sirva de lição
aos moralistas e os hipócritas de plantão

Corre, venha ver
outro vagabundo
aqueles que sujam nossa cidade
já estão preparando tudo
hoje é dia de crustificação.



terça-feira, 7 de julho de 2015

Olhares, Vinagre e Rosas

Mais um par de olhos negros misteriosos pela rua, para quem eles são direcionados?
Estes olhos são de amores ou puramente vingança?
Lágrimas de sal ou de vinagre?
Nas rosas colocadas delicadamente sobre o túmulo, vinagre não água, cinza pedra fria assim como quem dentro do caixão está, e este par de olhos claros são de sentimentos ou de rancores?
Do outro lado da rua alguém espera o ônibus, uma carona ou uma nova ilusão, um novo drama, aquele par de olhos sem cores buscam uma chance de viver ou um corte mais profundo na veia?
Na maternidade um casal busca os olhos do primogênito, dois pares de olhos que se transformam em um, mas naqueles olhares as dúvidas, crises de valores, um olho fita o filho o outro busca a saída.
Dentro do mesmo hospital, no andar de cima alguém morre, assim que deve ser, lágrimas escorem de pares de olhos aleatórios, em algum lugar da cidade alguém já prepara as flores de plásticos e um terno de segunda mão, sem esquecer do caixão parcelado em vinte e quatro vezes.
Enquanto aquela criança experimenta o seio de sua mãe pela primeira vez e sua mãe chora, até quando serão lágrimas de amor e compaixão, quando se tornaram lágrimas de vinagre e de separação?
Outros cantos, outros olhares, lágrimas de amores, de dores, encontro, separação, outros olhos escondidos em jornais ou em óculos escuros, pares de olhos pela rua, quais são lágrimas de sal ou lágrimas de vinagre!


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os Filhos do Brasil

"...seu terno de vidro, 
sua incoerência, 
seu ódio — e agora?..."

E o que vai restar quando essa raiva passar quando os olhos voltarem a enxergar, quando o choro não se poder abafar, e agora José o que vai fazer quando nossos filhos da pátria não tão mais amada estiverem encarcerados?
Cercados por paredes frias, junto daqueles de olhares gananciosos, dos narizes brancos de olhos vermelhos, trêmulos e nervosos, e agora José?

"você marcha, José! 
José, para onde?"

"...não veio a utopia 
e tudo acabou 
e tudo fugiu 
e tudo mofou..."

Em um canto algumas crianças brincam, ao menos por uma hora, seu tempo de sol, não se preocupe José apenas a morte é o final, um dia desses é sol, céu azul e liberdade e as pequenas mãos não vão mais tremer com o cano frio, já não serão pequenas mãos, nem sonhos ou ilusões, é nessa hora José que a festa acaba que a luz vai estar apagada, minutos antes do estampido, sem discurso José você morre, vira estatística de mais um dos filhos de nossa pátria, agora qualificados por nossas leis. 


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Os Trabalhos de uma Criança

Tem criança que brinca de ser adulto
diz que trabalha
sai de casa cedo
coloca roupa dos pais
mas sempre volta a ser criança

Tem criança que brinca de ser criança
diz que se diverte
sorri por ser feliz
corre e se esconde
mas nunca volta a ser criança

Tem criança que estuda
que aprende a juntar palavras
outras a juntar lixo
a sustentar irmãos
esquecer de ser feliz

Tem criança que pinta
com aquarela em uma folha branca
já outras só sabem pintar paredes
cavar buracos
enquanto outras fazem e refazém castelos de areia

Tem criança que brinca de brincar
outras tentam se lembrar
de como era o seu brincar
se é que um dia brincaram
ou apenas imaginaram

Nem sempre quem deseja o brinquedo, recebe o brinquedo
como nem sempre quem merece educação, recebe educação
como quem não recebe atenção
carinho
nem mesmo recebe o pão