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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sobre os Porcos e Outros Animais

Enjaulados grandes, gordos, sujos animais, dois em um espaço que deveria acomodar um, um dos pequenos vale ressaltar. 
Sem cuidado algum, deitados nas próprias fezes.

-São apenas animais...
Alguém comentou.

Grunhidos se misturam com buzinas, xingamentos, gritos, músicas de uma cidade em movimento.

-Falta agora acender o fogo e trazer as geladas...
Alguém comenta.

Cordão de isolamento, mantendo assim os curiosos um pouco afastados, flashes, comentários, telefonemas.

-Virou sim, aqui na Avenida Tal, chama o pessoal, vamos levar um pra casa...
Ela disse ao telefone.

O sangue começa a escorrer, manchando o asfalto, alguns ainda estão vivos, agonizando, sufocados por outro que já estão mortos.

-Porra, tenho que trabalhar, vão liberar quando a Avenida?
O homem de terno questiona.

Uma multidão se aproxima, estão com facas, fome no olhar e ambições nas mãos, poucos policiais nada podem fazer, alguns são cortados ali  mesmo.

-Mata aquele vivo ali, quero carne fresca, esse que está morto deixa de canto, já tem até moscas.
Aponta a senhora.

Sangue, grunhido, palmas, conversas desconexas, novela, jornal, cadeira de praia, radio no carro.
Um que outro tenta correr, não consegue, Avenida virou açougue.
Chega policia, afastando pessoal, mãos com sangue, pedaços de animais.

-Ninguém passa.
Com a mão na arma o policial informa.

Água no asfalto, cachoeira vermelha até a lateral, pedaços vão junto se perdendo no matagal.
Ao lado do cordão população observa, ainda com facas nas mãos, olhos vidrados por mais um pedaço uma comemoração.

-São apenas animais, tanto faz.
Grita população enfurecida.

-Queremos mais
mais 
mais
são apenas animais...


 

Jornal Popular

Em jornais
folhas e folhas
esculacho popular
continuam a contabilizar os mortos
esquecendo dos que estão a nascer

Páginas policiais
crianças, marginais
entre belos merchandising coloridos
em contraste com o sangue
de mais um na calçada

Dicas para uma barriga sarada
uma receita para sua amada
esporte
novela
alto astral

No zodíaco
sua cor é o amarelo
amizade sincera
amor verdadeiro
mas pouco dinheiro

Coluna social
gente fina, high society
sorrisos de porcelana
deuses, imortais em hospitais particulares
puxa sacos a tiracolo

Em jornais
sangue e social
noticias velhas
acabam limpando bundas
no banheiro público

Outro dia
mais noticias
reprisadas
tão iguais
como as da semana passada.



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Parabéns Pra Você, Blá Blá Blá

-Não é qualquer dia que se faz aniversário não é...
Palavras e um tapinha no ombro.

Pensei em silêncio e respondi em silêncio também.
-Não, claro que não, até onde eu saiba apenas uma vez no ano ou agora estamos na moda de comemorar desaniversário?
Ainda não era o momento de responder a tal pergunta com um doce ironia matinal, então apenas sorri e balancei a cabeça, já estava fazendo muito isso naquele dia.

Fui ao banheiro buscar um pouco de paz, longe dos sorrisos maliciosos acompanhando de um:
-Está ficando mais velho em e essas rugas, um passo mais próximo da sepultura.
Que sempre vinha com aquele maldito tapinha no ombro.

Lavei as mãos, o rosto e observei o espelho, aquela imagem de um ser mais velho...
Será?
Obvio que estava mais velho, cada dia que se passava eu ficava mais velho, caminhava para a morte, que assim seja, estou mais velho que no segundo anterior e no seguinte estarei mais que agora, que doido pensei comigo.

Observei ao espelho, minhas expressões, abria bem os olhos, a boca, repuxava as bochechas e o pescoço, as orelhas também foram analisadas, rugas, poucas, nada de mais, muitas ainda estavam por vir.
O cabelo estava ali, bom ainda, mas por precaução um belo chapéu poderia ficar guardado no armário.
Barriga, essa nunca tive e esperava não ter, apesar dos pesares ainda estava em bom estado.
Um último suspiro, uma piscadinha ao espelho que foi retribuída instantaneamente, secar as mãos e encarar mais falsos sorrisos, palavras vagas, repetidas, aquele clichê todo, blá blá blá, cartilha do bom aniversário, no fim das contas é só mais um dia, são apenas algumas palavras que amanhã não vão fazer sentido algum, ao menos não para mim.



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"...É um banco de sangue encadernado Já vem pronto e tabelado, É somente folhear e usar..."

-Bandido bom é bandido morto...
Grita alguém na multidão, ecoando pela rua, sendo repetida por outras vozes.
-É isso ai mata, espanca... Monstro.
-Monstro...
-Monstro...

No ar em 3, 2, 1...
-Bom dia ao telespectadores do programa da Bom Dia Manhã, eu sou seu correspondente da rua, Alberto Justino, levando a noticia até você.
Parece que teve fim o caso do desaparecimento da menina Cristiane de apenas oito anos, infelizmente não teve o final que se era esperado, o corpo da menina foi encontrado enterrado no quintal, ao saber do fato a população enfurecida tomou a rua em busca do monstro, culpa toda essa recaiu sobre o pai da menina, que foi cercado pelos vizinhos, neste exato momento ele foi amarrado em uma árvore e está sendo espancado, ele grita e grita mais um pouco, mas a população quer justiça pela morte da pequena Cristiane.
Os policiais não conseguem afastar a população, estão em menor número a espera de reforços, contudo estamos vivendo agora um sentimento de agonia e desespero, um sentimento de justiça para com a jovem, inocente e incapaz Cristiane, ao qual repito 8 anos de idade, uma pequena que começa a conhecer o mundo, mas que foi tirada a força por aquele que deveria lhe dar conforto e proteção, é meus amigos de casa o perigo não mora só ao lado, mora dentro de nossa, dormimos muitas vezes com o perigo e nem sabemos.
Veja a policia está chegando, mas esperem parece que estão com um outro meliante no carro, vamos averiguar e já retornamos.

-Mata, mata, MONSTRO...

-Uma reviravolta inesperada meus amigos de casa, parece que o tal homem no carro da policia se trata de Miguel o irmão mais velho da pequena Cristiane, parece que ele assumiu a culpa pelo assassinato, estupro e ocultação do cadáver da pequena e inocente Cristiane, que repito morreu covardemente por aquele que confiava. População se vira contra Miguel, querem justiça como alguns dizem, mas não é justiça isso, deixe a policia as leis cumprirem seus deveres, cidadãos de bem não devem sujar as mãos com o sangue podre deste monstro. Miguel foi levado para a 22ª DP  e lá vai esperar por sua transferência ao presidio da região. Já voltamos com mais informações sobre o caso do Monstro da Baixada.

Já em casa o pai é consolado por sua  esposa e mãe de Cristiane, está no sofá, com dores, parece que foi quebrado algumas costelas, alguns socos e pancadas a mais levariam ele ao caixão.

-Pois estamos no ar mais uma vez meus amigos de casa, estamos aqui com o pai e mãe de Cristiane, José e Antônia, com elusividade vamos conversar com eles sobre está tragédia em sua família, perder sua pequena filha por um de seus, o perigo está mesmo dentro de nossa vida. Acompanhe a entrevista completa no jornal da noite, vamos ter uma edição especial sobre o caso que chocou o Brasil, depoimentos de familiares, de seus pais, vizinhos e coleguinhas de escola e mais ainda vamos falar sobre a quase injustiça cometida com José que por pouco não deixou sua família de desamparada,  não percam, logo mais no Jornal da Noite. Boa Tarde a todos e um forte abraço eu sou Alberto Justino.

-Corta!

-Seu José podemos gravar novamente, poderia o senhor ficar na cama, daria um enfoque maior sobre seus ferimentos e dona Antônia, chora mais querida pode chorar é bom assim damos mais espaço para vocês, chora mais convincente pense nela, nos bons momentos que teve ao lado dela, não muitos né oito anos não se vive muito e nem se vai mais não é, posso arrumar um colírio para ajudar, pega um quadro de sua filha também a morta mesmo e fica agarrada nele, pode ser? Certo então, vamos fazer mais uma vez pessoal, depois almoço.


"...A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.

É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar..."









quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quando o Cotidiano Ficou Mais Interessante que a Poesia ou Um Diálogo ao Espelho

Bom aqui vamos, mais uma vez blá blá blá, vamos encher linhas e linhas de expressões clichês, estava assim por dizer um tanto de canto observando o cotidiano, quando o mesmo se torna mais interessante que a poesia ou melhor estava absorvendo absorto, licença poética que me desculpem os doutores da palavras e do falatório, os senhores da retórica e suas legiões de fãs, curte ai camarada.
O mundo está hostil, sempre foi meu jovem, continua a ser, só piora, contradições, anota ai que falta contradições no mundo e sobram certezas.
Quando o cotidiano se tornou mais interessante do que palavras? Ora ora sempre foi assim e sempre será assim, uma pausa para observar o clima, dar uma respirada sentir as náuseas e deixar o vomito vir, pegue a cadeira mais próxima e sente-se em frente a televisão e seja lobotomizado, bata panelas do sexto andar, estoure um espumante, seja guiado pela massa no fim é só um moedor de carne de qualquer forma.
O mundo como todas as cosias viva esta morrendo, cada segundo que passa, todos estamos morrendo claro a diferença que o Planeta Terra sofre de uma praga que se reproduz em uma velocidade absurda, destrói e constrói, uma infestação de Homo Sapiens, vulgo Idiotacas Modernucus, ser de total destreza e incapa... capacidade de moldar o mundo a suas vontades e não apenas o mundo como todos os que nele estão, amém irmãos.
Quando o cotidiano ficou interessante, sai para rua dar uma espiada, sai da caverna, olhe e voltei, vamos esperar mais alguns anos, séculos talvez, quem sabe um bombinha acabe com tudo mais uma vez ou na melhor das hipóteses um suicídio coletivo.