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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sobre os Aviões e as Bombas

No folhetim sangue e destroços
de uma pátria que chora
contando seus mortos
e condecorando seus heróis

Cinquenta e tantos anos antes
que tanto faz
como uma bomba que cai
passado contaminado é esquecido

No local do desastre
memorial pelas  vidas perdidas
flores e velas
uma eterna despedida

Duas cidades arrasadas
sem lembranças
nem almas perdidas
esquecidas pela glória vencida

Na televisão pronunciamento Mr. President 
não esqueceremos, então

Em filmes apenas mentiras
com belas coreografias

Das torres quase idênticas
restou o pó
lembranças de sangue
e claro os heróis

Das cidades quase idênticas
restou o medo
consequências e corpos desnudos
ainda sem covas.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sobre o Louco que Dançava com a Chuva

-Porcaria de tempo, poderia ao menos esperar até eu chegar em casa não é...Droga de chuva.
A mulher bem arrumada reclama, olha para o céu enquanto fala assim como quem discute com Deus ou com as nuvens.

-Vou  estragar meus sapato novos... Droga de chuva.
Diz assim o rapaz passando a mão em seus belos sapatos lustrados.

Outros nem se dão ao trabalho de reclamar de fato, apenas um sussurrar entre os dentes e uma virada de olhos.

O céu resplandece em cores platinadas, raios e trovões aquela cosia toda, vento levanta poeria, arrasta lixo, descaruma cabelos.

-Lá se vai meu penteado... Droga de chuva.

Recostado na parada um homem sacode um velho guarda-chuva, terno tão velho quanto o mesmo, sapatos surrados, barba por fazer, claro um morador de rua, descuidado homem entregue pela cidade, enregue na vida.

Olhos atentos dos outros ali abrigados da chuva na parada, não dizem nada e nem precisam, seus olhos já estão a julga-lo e seus corpos a se afastar.

O homem nem liga, não observa é como se estivesse só, só na rua inteira, começa a sussurrar algo. uma melodia, balançar as pernas desajeitadamente, para um lado e para o outro, logo o tal guarda-chuva entra no balanço, para lá e para cá.
Os olhos estão voltados a ele.

-Louco, só pode...
-Doente...
-Esses vagabundos...

Ele arrisca cantar em sincronia com seu balançar que melhora quanto mais se mexe...
-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again...

-Louco, só pode...
-Doente...
-Esses vagabundos...
-Acham que a rua é palco agora, vai trabalhar miserável. 

-Ei seu policial, tire esse maluco daqui, ele está jogando água em nós com sua cantoria e sua dança...

-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again
-I'm laughing at clouds
-So dark up above
-The sun's in my heart...

-Vamos circulando, aqui não é lugar para isso...

Ele não responde, apenas canta e dança, segue assim a rua, da parada os outros ainda escutam sua canção se afastando, quanto mais longe ele está menos os pés que estavam discretamente dançando em silêncio, suas bocas sussurravam maldizeres seus olhares desprezo, mas seus pés ahhh estes sabiam dançar.

-I'm singing in the rain
-I'm singing in the rain  
-I'm happy again
...

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sobre os Porcos e Outros Animais

Enjaulados grandes, gordos, sujos animais, dois em um espaço que deveria acomodar um, um dos pequenos vale ressaltar. 
Sem cuidado algum, deitados nas próprias fezes.

-São apenas animais...
Alguém comentou.

Grunhidos se misturam com buzinas, xingamentos, gritos, músicas de uma cidade em movimento.

-Falta agora acender o fogo e trazer as geladas...
Alguém comenta.

Cordão de isolamento, mantendo assim os curiosos um pouco afastados, flashes, comentários, telefonemas.

-Virou sim, aqui na Avenida Tal, chama o pessoal, vamos levar um pra casa...
Ela disse ao telefone.

O sangue começa a escorrer, manchando o asfalto, alguns ainda estão vivos, agonizando, sufocados por outro que já estão mortos.

-Porra, tenho que trabalhar, vão liberar quando a Avenida?
O homem de terno questiona.

Uma multidão se aproxima, estão com facas, fome no olhar e ambições nas mãos, poucos policiais nada podem fazer, alguns são cortados ali  mesmo.

-Mata aquele vivo ali, quero carne fresca, esse que está morto deixa de canto, já tem até moscas.
Aponta a senhora.

Sangue, grunhido, palmas, conversas desconexas, novela, jornal, cadeira de praia, radio no carro.
Um que outro tenta correr, não consegue, Avenida virou açougue.
Chega policia, afastando pessoal, mãos com sangue, pedaços de animais.

-Ninguém passa.
Com a mão na arma o policial informa.

Água no asfalto, cachoeira vermelha até a lateral, pedaços vão junto se perdendo no matagal.
Ao lado do cordão população observa, ainda com facas nas mãos, olhos vidrados por mais um pedaço uma comemoração.

-São apenas animais, tanto faz.
Grita população enfurecida.

-Queremos mais
mais 
mais
são apenas animais...


 

Jornal Popular

Em jornais
folhas e folhas
esculacho popular
continuam a contabilizar os mortos
esquecendo dos que estão a nascer

Páginas policiais
crianças, marginais
entre belos merchandising coloridos
em contraste com o sangue
de mais um na calçada

Dicas para uma barriga sarada
uma receita para sua amada
esporte
novela
alto astral

No zodíaco
sua cor é o amarelo
amizade sincera
amor verdadeiro
mas pouco dinheiro

Coluna social
gente fina, high society
sorrisos de porcelana
deuses, imortais em hospitais particulares
puxa sacos a tiracolo

Em jornais
sangue e social
noticias velhas
acabam limpando bundas
no banheiro público

Outro dia
mais noticias
reprisadas
tão iguais
como as da semana passada.



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Parabéns Pra Você, Blá Blá Blá

-Não é qualquer dia que se faz aniversário não é...
Palavras e um tapinha no ombro.

Pensei em silêncio e respondi em silêncio também.
-Não, claro que não, até onde eu saiba apenas uma vez no ano ou agora estamos na moda de comemorar desaniversário?
Ainda não era o momento de responder a tal pergunta com um doce ironia matinal, então apenas sorri e balancei a cabeça, já estava fazendo muito isso naquele dia.

Fui ao banheiro buscar um pouco de paz, longe dos sorrisos maliciosos acompanhando de um:
-Está ficando mais velho em e essas rugas, um passo mais próximo da sepultura.
Que sempre vinha com aquele maldito tapinha no ombro.

Lavei as mãos, o rosto e observei o espelho, aquela imagem de um ser mais velho...
Será?
Obvio que estava mais velho, cada dia que se passava eu ficava mais velho, caminhava para a morte, que assim seja, estou mais velho que no segundo anterior e no seguinte estarei mais que agora, que doido pensei comigo.

Observei ao espelho, minhas expressões, abria bem os olhos, a boca, repuxava as bochechas e o pescoço, as orelhas também foram analisadas, rugas, poucas, nada de mais, muitas ainda estavam por vir.
O cabelo estava ali, bom ainda, mas por precaução um belo chapéu poderia ficar guardado no armário.
Barriga, essa nunca tive e esperava não ter, apesar dos pesares ainda estava em bom estado.
Um último suspiro, uma piscadinha ao espelho que foi retribuída instantaneamente, secar as mãos e encarar mais falsos sorrisos, palavras vagas, repetidas, aquele clichê todo, blá blá blá, cartilha do bom aniversário, no fim das contas é só mais um dia, são apenas algumas palavras que amanhã não vão fazer sentido algum, ao menos não para mim.



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"...É um banco de sangue encadernado Já vem pronto e tabelado, É somente folhear e usar..."

-Bandido bom é bandido morto...
Grita alguém na multidão, ecoando pela rua, sendo repetida por outras vozes.
-É isso ai mata, espanca... Monstro.
-Monstro...
-Monstro...

No ar em 3, 2, 1...
-Bom dia ao telespectadores do programa da Bom Dia Manhã, eu sou seu correspondente da rua, Alberto Justino, levando a noticia até você.
Parece que teve fim o caso do desaparecimento da menina Cristiane de apenas oito anos, infelizmente não teve o final que se era esperado, o corpo da menina foi encontrado enterrado no quintal, ao saber do fato a população enfurecida tomou a rua em busca do monstro, culpa toda essa recaiu sobre o pai da menina, que foi cercado pelos vizinhos, neste exato momento ele foi amarrado em uma árvore e está sendo espancado, ele grita e grita mais um pouco, mas a população quer justiça pela morte da pequena Cristiane.
Os policiais não conseguem afastar a população, estão em menor número a espera de reforços, contudo estamos vivendo agora um sentimento de agonia e desespero, um sentimento de justiça para com a jovem, inocente e incapaz Cristiane, ao qual repito 8 anos de idade, uma pequena que começa a conhecer o mundo, mas que foi tirada a força por aquele que deveria lhe dar conforto e proteção, é meus amigos de casa o perigo não mora só ao lado, mora dentro de nossa, dormimos muitas vezes com o perigo e nem sabemos.
Veja a policia está chegando, mas esperem parece que estão com um outro meliante no carro, vamos averiguar e já retornamos.

-Mata, mata, MONSTRO...

-Uma reviravolta inesperada meus amigos de casa, parece que o tal homem no carro da policia se trata de Miguel o irmão mais velho da pequena Cristiane, parece que ele assumiu a culpa pelo assassinato, estupro e ocultação do cadáver da pequena e inocente Cristiane, que repito morreu covardemente por aquele que confiava. População se vira contra Miguel, querem justiça como alguns dizem, mas não é justiça isso, deixe a policia as leis cumprirem seus deveres, cidadãos de bem não devem sujar as mãos com o sangue podre deste monstro. Miguel foi levado para a 22ª DP  e lá vai esperar por sua transferência ao presidio da região. Já voltamos com mais informações sobre o caso do Monstro da Baixada.

Já em casa o pai é consolado por sua  esposa e mãe de Cristiane, está no sofá, com dores, parece que foi quebrado algumas costelas, alguns socos e pancadas a mais levariam ele ao caixão.

-Pois estamos no ar mais uma vez meus amigos de casa, estamos aqui com o pai e mãe de Cristiane, José e Antônia, com elusividade vamos conversar com eles sobre está tragédia em sua família, perder sua pequena filha por um de seus, o perigo está mesmo dentro de nossa vida. Acompanhe a entrevista completa no jornal da noite, vamos ter uma edição especial sobre o caso que chocou o Brasil, depoimentos de familiares, de seus pais, vizinhos e coleguinhas de escola e mais ainda vamos falar sobre a quase injustiça cometida com José que por pouco não deixou sua família de desamparada,  não percam, logo mais no Jornal da Noite. Boa Tarde a todos e um forte abraço eu sou Alberto Justino.

-Corta!

-Seu José podemos gravar novamente, poderia o senhor ficar na cama, daria um enfoque maior sobre seus ferimentos e dona Antônia, chora mais querida pode chorar é bom assim damos mais espaço para vocês, chora mais convincente pense nela, nos bons momentos que teve ao lado dela, não muitos né oito anos não se vive muito e nem se vai mais não é, posso arrumar um colírio para ajudar, pega um quadro de sua filha também a morta mesmo e fica agarrada nele, pode ser? Certo então, vamos fazer mais uma vez pessoal, depois almoço.


"...A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.

É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar..."









quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quando o Cotidiano Ficou Mais Interessante que a Poesia ou Um Diálogo ao Espelho

Bom aqui vamos, mais uma vez blá blá blá, vamos encher linhas e linhas de expressões clichês, estava assim por dizer um tanto de canto observando o cotidiano, quando o mesmo se torna mais interessante que a poesia ou melhor estava absorvendo absorto, licença poética que me desculpem os doutores da palavras e do falatório, os senhores da retórica e suas legiões de fãs, curte ai camarada.
O mundo está hostil, sempre foi meu jovem, continua a ser, só piora, contradições, anota ai que falta contradições no mundo e sobram certezas.
Quando o cotidiano se tornou mais interessante do que palavras? Ora ora sempre foi assim e sempre será assim, uma pausa para observar o clima, dar uma respirada sentir as náuseas e deixar o vomito vir, pegue a cadeira mais próxima e sente-se em frente a televisão e seja lobotomizado, bata panelas do sexto andar, estoure um espumante, seja guiado pela massa no fim é só um moedor de carne de qualquer forma.
O mundo como todas as cosias viva esta morrendo, cada segundo que passa, todos estamos morrendo claro a diferença que o Planeta Terra sofre de uma praga que se reproduz em uma velocidade absurda, destrói e constrói, uma infestação de Homo Sapiens, vulgo Idiotacas Modernucus, ser de total destreza e incapa... capacidade de moldar o mundo a suas vontades e não apenas o mundo como todos os que nele estão, amém irmãos.
Quando o cotidiano ficou interessante, sai para rua dar uma espiada, sai da caverna, olhe e voltei, vamos esperar mais alguns anos, séculos talvez, quem sabe um bombinha acabe com tudo mais uma vez ou na melhor das hipóteses um suicídio coletivo.


quinta-feira, 9 de julho de 2015

Corre, Venha Ver

Corre, venha ver
pegaram um bandido
um ladrão
coisa que cidadão de bem deve fazer

Corre, venha ver
o marginal foi amarrado
no poste da esquina
agora está cercado

Corre, venha ver
esse nego sujo
esse ladrão
esse lixo humano

Corre, venha ver
o cidadão de bem
honesto e trabalhador
espancando quem merece

Corre, venha ver
o sangue escorrer
da cara desse vagabundo
bate mais, bate mais

Corre, venha ver
ele merece
merece morrer
coisa que o cidadão de bem deve fazer

Corre, venha ver
parece que ele morreu
fotos na internet
aplausos na multidão

Corre, venha ver
o exemplo de humanidade
os bons costumes
do cidadão de bem

Corre, venha ver filho
o homem que você deve ser
esqueça nossas leis
jogue tudo no lixo

Suje as mãos de sangue
dos inocentes e dos culpados
que sirva de lição
aos moralistas e os hipócritas de plantão

Corre, venha ver
outro vagabundo
aqueles que sujam nossa cidade
já estão preparando tudo
hoje é dia de crustificação.



terça-feira, 7 de julho de 2015

Olhares, Vinagre e Rosas

Mais um par de olhos negros misteriosos pela rua, para quem eles são direcionados?
Estes olhos são de amores ou puramente vingança?
Lágrimas de sal ou de vinagre?
Nas rosas colocadas delicadamente sobre o túmulo, vinagre não água, cinza pedra fria assim como quem dentro do caixão está, e este par de olhos claros são de sentimentos ou de rancores?
Do outro lado da rua alguém espera o ônibus, uma carona ou uma nova ilusão, um novo drama, aquele par de olhos sem cores buscam uma chance de viver ou um corte mais profundo na veia?
Na maternidade um casal busca os olhos do primogênito, dois pares de olhos que se transformam em um, mas naqueles olhares as dúvidas, crises de valores, um olho fita o filho o outro busca a saída.
Dentro do mesmo hospital, no andar de cima alguém morre, assim que deve ser, lágrimas escorem de pares de olhos aleatórios, em algum lugar da cidade alguém já prepara as flores de plásticos e um terno de segunda mão, sem esquecer do caixão parcelado em vinte e quatro vezes.
Enquanto aquela criança experimenta o seio de sua mãe pela primeira vez e sua mãe chora, até quando serão lágrimas de amor e compaixão, quando se tornaram lágrimas de vinagre e de separação?
Outros cantos, outros olhares, lágrimas de amores, de dores, encontro, separação, outros olhos escondidos em jornais ou em óculos escuros, pares de olhos pela rua, quais são lágrimas de sal ou lágrimas de vinagre!


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os Filhos do Brasil

"...seu terno de vidro, 
sua incoerência, 
seu ódio — e agora?..."

E o que vai restar quando essa raiva passar quando os olhos voltarem a enxergar, quando o choro não se poder abafar, e agora José o que vai fazer quando nossos filhos da pátria não tão mais amada estiverem encarcerados?
Cercados por paredes frias, junto daqueles de olhares gananciosos, dos narizes brancos de olhos vermelhos, trêmulos e nervosos, e agora José?

"você marcha, José! 
José, para onde?"

"...não veio a utopia 
e tudo acabou 
e tudo fugiu 
e tudo mofou..."

Em um canto algumas crianças brincam, ao menos por uma hora, seu tempo de sol, não se preocupe José apenas a morte é o final, um dia desses é sol, céu azul e liberdade e as pequenas mãos não vão mais tremer com o cano frio, já não serão pequenas mãos, nem sonhos ou ilusões, é nessa hora José que a festa acaba que a luz vai estar apagada, minutos antes do estampido, sem discurso José você morre, vira estatística de mais um dos filhos de nossa pátria, agora qualificados por nossas leis. 


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Os Trabalhos de uma Criança

Tem criança que brinca de ser adulto
diz que trabalha
sai de casa cedo
coloca roupa dos pais
mas sempre volta a ser criança

Tem criança que brinca de ser criança
diz que se diverte
sorri por ser feliz
corre e se esconde
mas nunca volta a ser criança

Tem criança que estuda
que aprende a juntar palavras
outras a juntar lixo
a sustentar irmãos
esquecer de ser feliz

Tem criança que pinta
com aquarela em uma folha branca
já outras só sabem pintar paredes
cavar buracos
enquanto outras fazem e refazém castelos de areia

Tem criança que brinca de brincar
outras tentam se lembrar
de como era o seu brincar
se é que um dia brincaram
ou apenas imaginaram

Nem sempre quem deseja o brinquedo, recebe o brinquedo
como nem sempre quem merece educação, recebe educação
como quem não recebe atenção
carinho
nem mesmo recebe o pão

terça-feira, 30 de junho de 2015

O Esotérico

No meu mapa astral dizia ser difícil minha companhia, minha pedra o quartzo, mas que porra de pedra, minha cor o vermelho, o azul listrado, o verde água e o beje para dar uma equilibrada , deveria andar feito palhaço, evitar comidas salgadas e dispensar a pimenta, cuidar de minha saúde, esperar um novo amor que estava por chegar, ter cuidado com amizades falsas e mais um tanto de porcarias que li, mais ainda para completar, que meu inferno astral na próxima segunda começaria.
Passei na banca central comprei revistinhas dessas estilo Astral, fiz os testes, contei os resultados, descobri meu número da sorte, fiz saquinho de renda, lilás como dizia na legenda, amarrei com quatro voltas, não três ou cinco tinha que ser quatro, pois assim que dizia, enterrei no fundo do quintal, na bananeira e esperei o resultado.
Fiz mandinga, pedi pro meu orixá, Ossaim, Oxossi, Obaluaiê, Oxumaré, ou qualquer um outro que resolvesse me anteder, tomei banho de descarrego usei o sal, o açúcar o mel e o que em minha cozinha poderia ter, fui na encruzilhada por ali ficou algumas frutas, balas uma meia garrafa de cachaça fina, a outra metade de água da bica, só meia mesmo o resto bebi e meia coxa de uma galinha e esperei o resultado.
Fui na missa pedi pro nosso Senhor, Maria, José, Santo sei lá o que ou fulaninho de tal, tomei a hóstia, rezei, como rezei, cantei tudo que poderia se cantar, fui abençoado e da caixinha de donativos cinco reais levei, voltei para casa e o resultado esperei.
Fui no culto abraçar o pastor, abracei, fiz relato de vida de como do tal Diabo escapei, o pessoal se agitava, cai, gritava, falava coisas que eu não compreendia, mas eu concordava e por dentro só ria e esperei o resultado.
Na cartomante taró, búzios, jogo do copo do compasso, cristais na mesa, dominó, ossos de galinha, borra de café, mas de meu destino nada se dizia, recebi banho de perfume com saquinho de pipoca e quando ela não estava vendo meia dúzia de incenso no bolso esquerdo, fui para casa e esperei o resultado.
Fumaça pelos cantos da casa, uma oração uma palavra antes de dormir e esperar o resultado.
No outro dia acordei fui no banheiro com uma baita caganeira, fui para o banho me limpar, não tinha água, não tinha gás nem luz para ajudar, banho de balde para variar, água gelada em um frio de matar, meu carro não pegava, perdi a lotação e para ajudar um cão mijou em minha calça, respirei fundo, nada podia fazer, pensei que estava bem protegido por santos e tudo mais, da próxima vez faço o dobro e talvez eu deva deixar a cachaça inteira do santo e uma ou outra coisa que mais.


domingo, 28 de junho de 2015

Poema Melancólico de Alcova

Raios e trovões: o céu despenca, em uma fúria de sons e luzes,
como nunca se viu antes. Estamos protegidos por longas paredes
e muros altos. A tempestade bate à porta furiosa, porém aqui ela
não entra. Escuto teus ruídos como animais que estão a cercar sua
presa, cantos malditos por corredores vazios. A chuva molha a
vidraça, escorre contornando uma silhueta feminina, um reflexo
que espreita pela porta logo atrás de mim, um leve sorriso, um
movimento de mãos e uma taça vazia que anseia por mais vinho.


Invado teu recinto e teus olhos com a minha pálida face, com os
meus sôfregos passos, com a luz de parasselênio do pequeno castiçal
que carrego. Clair de lune flutua pelos corredores escuros em busca
de mais um cálice de vinho, bebida que mancha minha pele com sangue
e mancha teus macróbios lábios com versos negros de invernos cinzentos.
Rogo que o inverno de nossa alma vague, com o som de Debussy, pelo
interior deste castelo e que se esconda, em velhos baús abandonados, pelos
esquecidos aposentos das óperas outrora dramatizadas por insanos solitários.


O silêncio nasce antes do estremecer da terra. Na escuridão, guiado por
afagos da luz amarelada, das velas e do cristal das taças, reluz o doce amargo
do vinho. Uma visão: através da grande vidraça, as copas das árvores, em seu
balançar, dançam tomadas por seus pares, os impetuosos e delicados ventos.
“A última taça, minha estimada”, assim é oferecido. O último olhar lançado à
tempestade antes que ela cesse, antes que a música silencie, antes que as velas
se apaguem, antes que o dia nasça e, com ele, retorne o velho Sol brilhante.

Teus dedos já não tremem como antes e teus olhos já não sangram como
costumavam sangrar. Minhas mãos já não são gélidas e meus desejos
tornam-se cálidos. O vinho se faz insuficiente e o silêncio se transforma
em uma eterna melodia celta. Os pedidos nascem na garganta e desabam
ao estômago. As gotas da chuva presas nas vidraças voam direto às nossas
faces e tornam-se lágrimas pesadas de almas que foram olvidadas por um
deus desconhecido. Não há luz. Não há sabor. Não há silêncio. Há dor.
Por outra vez – e para sempre – há o vetusto medo de não ser o que se é.


Eduardo Lima & Laís Grass Possebon 
Caos Eterno - Por Laís Grass Possebon


terça-feira, 23 de junho de 2015

La mujer amarilla

Femininas, humanas, mulheres
de palavras, papel, poesia
de carne, seios, pernas e olhos
mulher, humanas dentro de seus livros
enclausuradas por seus maridos
por seus autores
por suas capas
seus epígrafos
seus monólogos
mortas por seus epílogos.
Em cada toque assim feminino nem tão frágil
nem tão submisso
se esconde um ponto
em uma tênue linha
uma gota amarela
la mujer amarilla   
espectadora destas que sofrem
destas que se glorificam
ou daquelas que morrem.
Helenas as de Tróia ou de qualquer canto
o caminho da fuga, por marcas em tons amarillo.
Penélopes em seu tecer ao dia
pela noite as linhas em tons amarillo, desfazer-se.
Lolitas, provocantes com seus batons vermelhos
suas roupas amarillo.
Madames Bovary, sonhadoras em seu cativeiro
ilusões ao nascer do sol, amarillo. 
La mujer amarilla 
feita de todas estas
e outras tantas, mulheres, femininas, poesia
revoluções, penitências, inquisições
no fim um  ponto final, uma observação
em tons de amarillo.    








sexta-feira, 19 de junho de 2015


Dança de Quimeras

Fantástica
absurda
monstruosa dança
dança dessas Quimeras
melodias de imaginação
sonhos
sonho de fantasia
utopia
de uma Quimera feita de ouro
outra manchada de sangue

Dois ou mais animais
compõem assim sua crua epifania
cabeça de leão
corpo de serpente
de olhos dormente
outras cabeças fazem entonação
uma de cabra
outra de dragão
pela insignia de mitologia

Homem e mulher
em tal maestria
juntos da fera
ao qual quem poderia separar
ou conceber dentro dos mitos
movidos por imaginação
nesta dança de quimeras
nesta dança de ilusões.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Enamorados Literários

Amantes
romances
enamorados literários

Como Romeu e Julieta
uma gota de veneno bastaria
pois o amor é além da vida

Penélope e Ulisses
o amor que resiste
pela distância e pela fúria dos Deuses

Eros e Psiquê
entregue-se a morte
para ganhar a imortalidade

Tristão e Isolda
por palavras vazias
o amor que morre de tristeza

Capitu e Bentinho
um amor daqueles de desconfiança
da dúvida até o ponto final

Dante e Beatriz
amor em três estágios
Inferno, Purgatório e Paraíso

Maria e João
como nossos pais
ou irmãos

Fulano e Fulana
como os desconhecidos na praça
como os conhecidos ao acaso
como estes ou aqueles enamorados.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Memento Mori (lembre-se que a morte chega a todos)

A cidade em festa, seu General venceu terríveis inimigos, retorna para sua casa com pompa de herói, mas nem mesmo os heróis são eternos...


-A Morte espreita, grande general! Ela sabe de sua fama e a inveja, deseja ser lembrada por seu feitos ser glorificada, receber seus júbilos, ouros e placas douradas...

-Não termine tuas palavras escravo, se não a única espreita de Morte será sobre teu cadáver.  Não a temo, ela que deveria temer a mim. Compreendo perfeitamente tal preocupação, seu desejo de glória, mas assim como os corvos e abutres vem se alimentar dos cadáver esquecidos, ela a Morte só tem espaço quando os Deuses e Generais assim como eu, já tiverem recolhido seus espólios, a ela apenas um corpo, mais um cadáver para sua lista.

-Quanta arrogância meu senhor, não te esqueças que é apenas mortal, enquanto ela, bom ela é imortal..

-O que tal imortalidade lhe vale, ela não passa de uma carniceira, a peste, a dor o fim de tudo, seus feitos mesmo que durem para sempre não valem uma alma as profundezas do Hades.

-Mas meu senhor, deveria ter cuidado com tuas palavras...

-Você que deveria ter cuidado, manter tua língua dentro da boca, eu avisei ó criatura, tu não me escutaste, agora perda está língua insolente que tens na boca.  Quero a língua deste aqui em um bandeja de prata e que sirva para outros que aqui estão, que nem a Morte pode tocar em meus feitos e que assim seja, assim será.

Bem no fundo do salão, alguém levanta uma taça e grita homenagens ao general.

-Um brinde aos seus feitos General e que não temas a Morte, pois a Morte não teme você, quem é o mais insolente aqui seu escravo ou você?

-Quem ousa ir contra minha palavra, quero este insolente aqui, servira de lição a outros como este. Onde está? Para onde foi o covarde, que venha me enfrentar, dizer em minha face o que devo temer, onde está?

Em um piscar de olhos, tal pessoa estava ao lado do General e retornou a falar:

-Aqui estou tolo mortal, não proferia palavras contra mim?  Cá estou eu a Morte, aquela que tu não temes, mas treme ao ouvir meu nome e o som de minha voz ao seu ouvido.

-Mas...
como é possível?

-Fique em silêncio mortal, tenha o respeito, se eu sou uma carniceira, o que sobras para ti, o grande General de feitos gloriosos, o que te sobras é apenas memórias, mas no fim eu terei tudo que é seu e seu cadáver apodrecera junto a mim. E quando estiver quase no fim de sua existência, brindarei ao seu corpo podre.

O General já não tinha reação, o que tanto falava agora calava-se, perdeu a língua, perdeu sua coragem.

-Silêncio? Onde está sua petulância agora mortal? Seu dia não era hoje, mas agora te digo para que apenas você possa ouvir, pois apenas a você interessa digo então ao pé de teu ouvido.

Como uma sombra que rasteja, ela estava ao lado do General, com a boca ao eu ouvido.

-Memento Mori General, lembre-se que você é mortal, lembre-se que a morte chega a todos e a todos eu posso tocar.

A Morte sumiu como um vulto ao vento, o General ficou alguns segundo olhando ao nada, seus olhos pararam de vez, seu corpo desabou e sua alma foi carregada para as profundezas do outro mundo.
Seguindo ainda pelos caminhos do outro lado a Morte ainda cantarolava algo:

...Todos estes ai 
espertos mortais 
cuidado com o que dizem 
cuidado 
pois a morte tudo escuta 
e a todos ela pode ouvir 
tolo mortal 
antes de desafiar a morte 
tenha certeza de sua vida...


quarta-feira, 10 de junho de 2015


Deixa Queimar

A palavra que salva
é a mesma que condena 
o terço que absolve 
é o mesmo que enforca 

O santo que cura 
é o mesmo santo que mata 
a divindade que se importa 
é a mesma que se ausenta 

Deixa queimar nessa fogueira
da palavra um amém 
uma glória 
uma hipocrisia

Na brasa o que restou do pecado
putas
viados
hereges

Deixa queimar nessa fogueira
alguém bate palmas
alguém grita aleluia
alguém lucra com um cadáver

Acende essa fogueira
deixa queimar
os pecados de outros
para que eu possa me salvar


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Destino Pelas Mãos das Moiras

Em seu leve tear
destino de homens
a se relevar

Noite após noite
roda da fortuna
a funcionar

Pelas mãos das irmãs condenas a eternidade
Cloto, Láquesis , Átropos
cada uma com seu penar

Cloto a primeira
em seu fiar
nascimentos e partos a se igualar

Láquesis a segunda
em seu sortear
júbilos para uma vida ou em morte se deliciar

Átropos a terceira
em seu afastar
corta seu fio da vida para na morte lamentar

Altos
e baixos
seu destino pode mudar

Tolo quem pensa
que sua vida
pode comandar

Decididas assim
por assim dizer
viver ou morrer

Seu fio do destino
tão frágil
tão fraco

Em seu tecer
tear
sua sentença logo chegara.


domingo, 7 de junho de 2015

Não me Venha Com Flores de Plástico

Não me venha com flores de plástico
com esses lamentos baratos
presente este eu recuso
eu passo ou desfaço pétala por pétala
que de pétala não tem nada
apenas artificial

Aceito flores de Cerejeira
que estas não se acham por aqui
prove seu amor busque uma do outro lado do planeta

Aceito um Girassol
que como quem busca o sol
seu amor busca o meu

Aceito um Copo-de-Leite
como quem sente a suavidade
do toque de nossas mãos

Aceito um Amor-Perfeito
que mesmo que o amor não seja
ela nos lembra sua beleza

Aceito um Crisântemo
com seu amarelo reluzente
que vale mais que jóias ou ouro

Aceito Camélias
que como as damas da noite
nosso amor também tem seus mistérios

Aceito Azaleias
com sua elegância nata
e suas cores variadas

Aceito uma Flor de Lis
que como canta Djavan
perdoa tudo de uma só vez

Aceito é claro Rosas
como quem encanta pela voz de Cartola
e volta assim exalando seu perfume em silêncio

E se ainda insistir em flores de plástico
suma daqui
mas deixe uma coroa de flores
assim mesmo dessas de velório
para que se lembre de nosso amor que foi sepultado.











sexta-feira, 5 de junho de 2015

Um Fado com Gosto de Vinho

Um fado com gosto de vinho
uma dose de melodia
encharcado de melancolia
que mancha meus lábios
mancha o resto de sentidos que levo no peito
pelas ruas ecoam
vozes e suspiros
vozes dos que cantam
suspiros daqueles que se apaixonam na praça junto ao mosteiro
mais um fado nessa mesa
mais uma taça de vinho
com a visão turva
embaçada pelas lagrimas
essa tristeza que bebo
esse fado que escuto
tira de meu peito este desalento
ficando solto no ar
transformando-se em cantiga
vou me assim desocupar este lugar
seguir pela rua Augusta
em uma Lisboa que desperta
e como um eterno amante
levo este fado junto ao peito e as manchas de vinho em meus lábios
e as marcas e as lágrimas eu deixo sobre a mesa.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Deusas e Musas

Pela insignia de Calíope fez assim poesia
por estas da alcunha do sexo frágil
dos deveres maternos
dos contratos conjugais de assinaturas banais

Pela insignia de Ártemis fez assim rebeldia
pela força das mãos
força de uma filosofia
confronto impresso por tais poesias

Pela insignia de Íris fez assim a leveza
do bater de suas asas de ouro
uma brisa macia
deslocando pensamentos

Pela insignia de Nix fez assim o mistério
como pela noite se esconde
das sombras ressurge
e agora existe

Pela insignia de Panaceia fez assim a cura
dos males humanos
dos rastros dos homens
estes ai de sexo masculino

Pela insignia de Psiquê fez assim a alma
pelo ardor da paixão da donzela mulher
limpando a visão
esclarecendo suas opiniões

Pela insignia de Deusas e Musas
das vivas das mortas
pela insignia de mulheres
e de seu lugar ao mundo.




quarta-feira, 3 de junho de 2015

Afagos de Rosas, Marcas de Espinhos

Pelas gotas de sangue 
contornando um corpo desnudo 
afagos de rosas 
marcas de espinhos 
pelos caminhos vazios
os rastros de sangue
são minhas verdades que estão a fluir
preenchendo espaços esvaziados
mesmo este cheiro
que impregna o ar
que mancha minha alma
me agrada muito mais
a essência de meu sangue a coagular
do que o cheiro deixado
por seus espaços desabitados.

Caos Eterno - cravei-me rosas pelo corpo - Por Laís Grass Possebon

terça-feira, 2 de junho de 2015

Um Sadismo ao Marquês

Mas que tempo perdido enclausurado nesta jaula, neste antro de putrefação humana, tolos em pensar que mudarei minha conduta, minha purificação não está ao alcance destes ai com o poder em suas mãos.
Cada qual com seus desejos enclausurados em um porão escuro de seus sonhos, plenas noites quentes de desnudo corpo tocado pelo luar, desejado por mãos, dedos, bocas, lábios, línguas e beijos.
Cada qual desses libertos estão condenados em uma prisão eterna, sua própria, sem grades ou portas de ferro, apenas com um guarda o pior deles, o guarda da moral e bons costumes, o guarda do que é certo ou do que gostam de afirmar assim ser.
Não eu não, estou longe apesar de ter estás paredes de cor crua a me encarar, sou um homem da natureza antes de qualquer outra coisa.
Sou como um pobre diabo, talvez pensem eu ser o dito cujo de fato, um cordeiro para o sacrifico em nome de um Deus ausente, tal Deus que me pune por ciúmes, me condena por meus atos por inveja por eu ser livre.

A pureza
em suas mentiras.

A malicia 
em suas verdades.

Blasfêmia
 para seus deveres podres.

Profanação 
em seus corpos frigidos .

Libertinagem 
aos desejos obscuros.

Sodomia
 para suas vidas.


Por hoje retorno aos sonhos e esqueço destas paredes cruas, que parecem diminuir com o tempo,como quem deseja esmagar meu corpo e ser  assim reduzido a pedaços, por hoje não, sou liberto das amarras dos homens e de seu Deus, talvez assim como quem ocupa um trono vazio eu deva ocupar o trono dele. 

 "...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes." Marquês de Sade


segunda-feira, 1 de junho de 2015

Manequins ao Entardecer

No fim da grande avenida uma grande loja imponente a mais bela da região era o que se dizia, tecidos, brinquedos, moveis... De tudo ali se encontrava e tudo ali era encontrado, na faixada uma linda placa em letras garrafais DE TUDO E MAIS UM POUCO, nas vitrines lindos manequins  de encher os olhos, tão belos e tão vivos diziam alguns, mas quem nunca teve tal impressão de um desses ai de puro plástico ser na verdade de pura vida, quem de canto de olho nunca espiou esperando por um movimento e quando de pé junto você supostamente jurou que viu e ali parado de frente ao tal nada mais se percebeu, pois manequins de vida nada tem ou tudo dela poderiam obter.
Ao fechar as portas e o público nada mais ver, cada qual manequim volta ao seu viver, quase como palavras mágicas e feitiços ao luar, nem tão de plástico agora podem ser, mas nem tanta carne, pele e ossos também a se obter.
Cada noite assim como quem foge na sombra das ruas e nas luzes dos postes um por vez cada manequim se refaz, coloca uma roupa e busca um algo mais.
Cansados de ser objeto de vitrine querem mais é viver ou melhor achar um pobre coitado para ocupar seu lugar.
Na noite em questão um homem descuidado era pego, capturado, levado para loja e que de tudo, tudo tinha mesmo, de roupas, machados e alguns esquartejados.
Tão bonito quase igual, um ser humano virar manequim e um manequim humano poderia se tornar.
Em outro momento preste a atenção, pois quem sabe quem observa pela vitrine não é o que da calçada analisa, mas quem de dentro da loja planeja uma visita.
 *foto de Luis Carlos Carpim 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Alma Triste Até a Morte

Pela janela vejo a rua
pingos de chuvas caem ao chão
sobre a escada uma pessoa morta 
com uma rosa na mão 

Sua cicatriz marcante 
posso enxergar, mesmo distante
marcas de tombos da vida
que foi muito sofrida

Morrer de corpo
morrer de alma
morrer tão completamente 
descasar um corpo, libertar a alma, é ruim?

...

Escorado em um canto escuro 
deixo meu corpo se molhar 
retirar o sangue de minhas mãos
dali fito de longe 
olhos atentos em uma janela superior 

Seus olhos atentos observo e fico distante 
uma ultima olhada ao corpo ao chão 
hoje já não tenho rosas em minhas mãos

retornarei pela escuridão
Mas voltarei 
para encarar aqueles olhos do andar superior 
não mais distante então 
próximo meus olhos estarão
Como quem observa a alma 
no fundo do olhar.

*Por Thamires Luana e Eduardo Lima

domingo, 17 de maio de 2015

Notas, Poemas, Melodias

Entre algumas musicas, livros, poemas e é claro café.
Olhos cansados, debruçados sobre os livros, as palavras são o mais confortável travesseiro e minhas pálpebras cobertores quentes e aconchegantes.
A cima de minha cabeça as notas se desprendem da vitrola, tiram para dançar algumas poesias que deixei ali atiradas, incompletas.
Mas que graça seu dançar...
leve 
solto 
a planar 
as rimas 
são guiadas 
pelas notas 
à dançar 


Que bela rima penso eu um pouco antes de meus olhos fechar, espero lembrar assim que acordar, por hora um último suspiro antes do sonhar.

Melodias Noturnas

Nas madrugas no compasso do relógio componho uma melodia 
uma novo música, cantada apenas para meus ouvidos e mais ninguém
 meu pequeno amigo aqui do meu lado que late e busca carinho 
para você faço um ensaio 
Está música um pequeno poema rimado 
dedicado a alguém 
alguém que não está aqui do meu lado 
alguém em outro quarto 
outra cama 
outros braços 
Mas na solidão de meu quarto 
não completo meu vazio 
pois junto a mim 
mais uma melodia 
uma música 
e um amigo que sempre busca meus afagos.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dragão Vermelho

O que vê homem de chifre?
o que és homem de chifre?
se de fato um homem é

O que admira horrorizada a mulher aos teus pés?
o que te pedes? 
clemencia
morte
ou paz?

Reza por ti 
tal mulher 
fuja deste lugar 
busque abrigo longe daqui 

Quem és tu 
que queima o horizonte 
que se esconde na sombra 
que murmura em silêncio 

O que toca com tuas asas 
além dos céus?
Se no céu pode chegar 
ou apenas queima no inferno?

Um pobre diabo talvez 
um anjo caído 
fugindo dos céus 
ou apenas tinta?

O que és criatura 
que se esconde na moldura 
de um velho quadro empoeirado 
és verdade?
ou apenas tinta...



terça-feira, 12 de maio de 2015

Silêncio no Tablado

No silêncio da escuridão as luzes uma a uma começam a dar o compasso.
Passos ao longe ecoam pelo chão...

_Silêncio 
Um vulto grita...
como um fantasma, um espirito que se esconde entre as cortinas rubras, fugindo de olhares mortais.

As cordas ganham vida, iluminando o tablado escuro, cheio de novas melodias, dedos e mãos, vozes e gritos chamam a plateia. 
Palmas para aqueles que na cortina ainda estão.
As palmas e melodias são o chamado, para o começo do espetáculo. 
Um a um a encher o pequeno espaço, dentro daquele velho tablado.

Luzes acesas por completo e o que se revela para os que ali estão sentados, não são espíritos, almas penadas ou pobres diabos atormentados, são homens, mulheres e crianças ligados pelo ritmo, pelo ritmo daquele velho tablado. 

Cada canto é preenchido, não apenas por mesas, mas completado por melodias, pela dança e pelos corpos que juntos se encontram naquele velho tablado.

Mesmo aqueles sentados, tão comportados, não conseguem se manter calados, imóveis. Um balançar de pernas, estalos com os dedos, palmas para todos os lados e ainda aqueles que são levantados, abandonando suas cadeiras vazias, dançando com o vento, abraçados pelas melodias.  

-Silêncio 
Alguém grita...

Retornando assim para escuridão do fundo do tablado, silêncio, as melodias, as palmas são guardadas, para outra noite, para que outros renasçam dentro daquele velho tablado. 


Eternamente Eterno ou Algo Assim

Eternamente eterno enquanto dure ou algo assim 
já nem sei quando dar corda no relógio 
para ganhar uns minutos a mais 
uns minutos a menos talvez 
nunca se sabe 

Eternamente eterno aquilo que perdura 
como uma taça de cristal frágil
 em uma mão bruta 

Eternamente eterno aquilo que queima 
como brasa acesa 
mas que mesmo assim ainda esquenta 

Eternamente eterno aquilo que vive 
respira 
que sente 

Eternamente eterno
enquanto morrer 
enquanto viver

Eternamente eterno 
como a duração de um único beijo 

Eternamente 
até a página final
eternamente eterno 
até o ponto final.



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Dia Frio, Café Quente

Aquele frio!
Hoje o sol estava com mais preguiça do que eu deve ter perdido a hora, seu despertador a lua não ativou a função soneca, mais cinco minutos não seriam o suficiente.
Escolho um cachecol, hoje o clima pede uma proteção extra para o pescoço, botas nos pés, uma calça mais grossa mais confortável e não se esqueça do casaquinho, diria minha mãe ou qualquer outra mãe.
Pó de café, filtro e água quente, assim começa o dia, antes de sair pela porta, respirar o frio se tornar um trabalhador.
Dou uma encarada ao céu, onde o sol pode estar em sua cama? Sol tem cama, uma caminha feita de estrelas, galáxias e planetas, tanto faz, sei que eu estou aqui e ele não.
Aquele frio!
As pessoas na rua estão encolhidas, cobertas, justo séria sentir o frio do quarto até a cozinha, da cozinha até o banheiro, do banheiro até o quarto.
Nada que um bom casaco não resolva, se sol não tenho, por hora um café quente em minhas mãos de hora em hora.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Provocações em um Estúdio Vazio

Quem provoca agora?
quem diz 
cita
 incita 
o espectador

Quem olha 
por uma tela fria 
que mesmo assim 
à você 
direciona-se 

Quais provocações 
vão restar no final 
em um estúdio vazio  
ecoar 
um último poema 

Quem vai ouvir 
questionar 
provocar 
uma ultima provocação 
em um estúdio vazio.


Antônio Abujamra
15\09\1932 - 28\04\2015
"...A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará."

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Reverso das Palavras Silenciadas

Não mais assim 
como quem escreve 
sem desejar escrever
dando vida
 ressuscitando palavras de um túmulo agora aberto 
e não mais 
nunca mais 
caladas 
silenciadas
agora impresso no papel 
it's alive 
it's alive!



domingo, 19 de abril de 2015

Palavras Silenciadas

Pelos cômodos da casa, não mais o tilintar das teclas da velha máquina de escrever, nem os rabiscos no papel, o riscar o apagar de palavras que não eram bem vindas, pelo chão não mais folhas amassadas com gosto de desgosto de palavras não aceitas.
Pelas paredes da velha casa, não mais ilusões surrealistas entre a tênue linha do mundo real ao mundo imaginário.
Na cozinha não mais vapores de café passado a iniciar ali e espalhar-se, impregnar todos os cantos, inebriar.
No quarto não mais pesadelos e sonhos perdidos, escondidos e deixados entre lençóis, não mais o luar a adentrar pela grande janela, não mais.
Pela biblioteca não mais, livros abertos, espalhados, bagunçados, cuspindo palavras aleatoriamente, como quem deseja fugir de suas páginas.
Pela casa, não mais poemas, não mais rimas nem sonetos vagos dedicados a amores, paixões passadas e utopias futuras.
Não mais palavras, discursos, textos, rabiscos, letras ou qualquer coisa que fosse escrito.
Não mais, talvez nunca mais um poeta, escritor um homem ou alguém, não mais.
Fecha-se assim o capítulo final, palavras silenciadas por um ponto final.


sábado, 21 de março de 2015

Ah, Quem Me Dera

Ah, quem me dera 
está vida 
ser intacta 
precisa 
sem o isto 
ou o aquilo 
mas algo 
já definido 
digo 
pré-definido 
como quem não escolhe 
só segue 
por caminhos trilhados 
riscados 
rasurados 
por outros tantos passos 
antes de mim 
e antes ainda destes do passado 

Ah, quem me dera 
perder a graça 
graça da dúvida 
do que se esconde ali na frente 
virando a curva 
ou no fim desta rua 
sem o desespero 
de se ver 
deitado 
parado 
enclausurado
guardado apenas na lembrança 
de lágrimas 
e pequenas doses de paixão 

Ah quem me dera 
presenciar 
os últimos soluços 
daqueles 
que estão para me enterrar 
saber quem no fim vai restar 
quem de certa forma 
vai realmente chorar 
ah, quem me dera 
ser convidado 
convidado para meu próprio 
sepultar.




sábado, 14 de março de 2015

No Princípio era Poesia

No princípio 
era poesia 
tão limpa e simples 
sem rimas 
ou linhas reduzidas 

Depois veio métrica
retórica
réplica
éticas
etcéteras e tal

Mesmo que moldada
poesia
ainda era lida
escrita
falada

Tal como linha de produção
poesias aos montes
jogadas pelo chão

Surgiu assim os poetas
os românticos
os mórbidos
os realistas
ou os por puro hobby
pois aqui entre você e eu
poetas todos podem ser

Poesia mesmo que em cores tão sombrias
possa fugir de seus tons de gris
colorir
ou até mesmo desconstruir

No princípio poesia
do inicio ao fim de uma vida
poesia feita até para uma morte
poesia por toda uma vida

Poesia não morre
ela se renova em cada escrita
mesmo que limitada
em três ou quatro linhas
poesia resiste
pois até da morte
poesia se retira

No princípio então poesia
daqui até o fim dos dias
como espectadora
poesia descreveu o nascer do mundo
poesia vai descrever o fim de tudo.

domingo, 8 de março de 2015

Flores Eternas

Na mesma flor 
um presente ingrato
uma pétala por vez  
desfolhada 
manchada 
por seres ingratos 

Na mesma flor 
lágrimas de dor 
saudade 
de amores passados 
de amores presentes 
de beijos roubados 

Na mesma flor 
homenagens em um único dia 
mulheres louvadas 
amadas 
ao menos 
até o fim do dia 

Hoje foste presenteada 
com flores perfumadas 
amanhã outro dia 
sufocada 
por outras flores
flores amargas 

Flores eternas 
para quem dá vida 
pelas mãos de mulheres 
mães 
companheiras 
outras tantas

Flores 
uma por dia 
nem que seja uma pétala 
de carinho 
ou flores de mudanças 
para que outros sigam o mesmo caminho.




sexta-feira, 6 de março de 2015

Bem no Fim da Tarde

Bem no fim da tarde 
quando o sol se esconde 
lentamente no horizonte 
assim como quem apaga uma luz 
suavemente 

Bem no fim da tarde 
de uma cor tão comum 
do azul que ficou manchado  
agora já reluz 
em cintilantes cores variadas 

Bem no fim da tarde 
como quem senta em uma varanda 
observa do alto 
as luzes da cidade 
que logo abaixo já estão acessas 

Bem no fim da tarde 
já começo da noite 
já desponta no outro lado 
desta palheta de cores 
uma lua 

Bem no fim da tarde 
vai desbotando as cores 
como quem apaga o céu 
para que no outro dia 
preencha de novas cores.


 *Foto de Joana Agostini




terça-feira, 3 de março de 2015

Conversa de Botequim

Descendo a ladeira até a entrada do beco, na entrada já se escuta a conversa vindo de longe chegando primeiro já tomando seus lugares em torno da mesa, cada um em seu devido lugar assim como ontem e no dia anterior e anterior ainda a este como na semana passada.
As luzes dos postes ao redor já vão acendendo, incandescente amarelo ofuscado ainda por raios de sol, mas que nada o sol já vai se despedindo sumindo assim lá no fim da rua como quem volta pra casa ou quem sai do bar, parece estar até cambaleando ladeira abaixo, cuidado seu sol, grita alguém da janela.
Na outra ponta da rua de cima já desponta uma lua, vestida de prata, discreta diva das nossas noitadas, sempre presente até o último sentado no bar.
Mesas cheias e o garçom desfila, bandeja na mão pedidos no papel o mais requisitado das noitadas.
Copos cheios com aquele dedo de espuma, conversas continuas, sinuca logo ao lado para animar, um violão e uma caixa de fósforos para Noel, Adoniran, Cartola em eterno ritmo, futebol meu time de coração goleou o seu, mortes no jornal de tão comum já nem entra na conversa, aquela pitada de discussão política, mas no fim tudo fica no muro e as ideologias esquecidas dentro do cinzeiro cheio de tocos de mais uma noitada em conversas de botequim.
Já desponta os raios de sol já é hora de um novo dia, o garçom já varrendo o chão, como quem varre os últimos sentados no bar, uma última dose, por favor, para pegar o rumo de minha casa, um até breve, de dia o bar silencia para na noitada, conversas de botequim poder se levar até um amanhecer.
Desponta no fim da rua os últimos assim levantando a mão deixando um até logo, vão descendo assim como quem bêbado vai cambaleando trocando de calçada até cada um estar em suas casas.