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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Chá das Cinco no Hospício Central

Entre tanta loucura ou excentricidade, como alguns costumavam dizer dos pacientes do hospício central, às cinco horas da tarde de todos os dias era o momento mais lúcido entre aquelas antigas e mofadas paredes.
Todos os dias sem falta ocorria o chá das cinco, não sei como ou quando começou tal hábito, sei que era um momento aguardado por todos, até mesmo por nós, os médicos.
Esse era um momento de interação, onde não existia paciente ou doutor, todos juntos em uma grande mesa, comendo pãezinhos, geleias e afins...
Uma hora antes todos já começavam a se organizar, o grande relógio da sala badalava quatro vezes, eram quatro horas, uma hora antes do chá, esse era o sinal para começar a se arrumar!
Colocar a melhor roupa, perfume, maquiagem, lustrar os sapatos, passar um gel no cabelo ou escolher um chapéu.
Como de costume eu já esperava por perto da mesa no jardim, gostava de observar os convidados chegando, cada qual com sua loucu... melhor, cada qual com sua excentricidade única.
Como sempre, como de praxe, o mais pontual com sua antecedência era Maomé, sempre com aquele olhar enigmático, mas de sorriso alegre!
Aos poucos iam chegando os conquistadores sempre com seus assuntos de quem mais feitos têm e quem mais dominou. Em uma discussão amigável estavam Napoleão, Alexandre o Grande, Gengis Khan e Júlio Cesar, o assunto sempre era o mesmo e nunca tinha fim, só eram interrompidos quando Jesus aparecia.
Dentre tantos por ali, dois sempre eram deixados de canto: Hitler e Stalin, mas isso era só até ser servido o chá, logo todos se misturavam e logo via-se chegando ali Marilyn, como sempre bem acompanhada! Ao seu lado estavam Platão, Beethoven e Madre Teresa.
Todos já estavam em seus lugares quando o velho relógio badalou cinco vezes, mas em vez de conversas e barulhos nada se escutava.
O silêncio era total, todos apreensivos trocavam olhares horrorizados.
“Mas onde estava?” – Eles todos se perguntavam. –
Eis que lá do segundo andar uma voz grita:
“- O Jorginho do quarto doze se enforcou!
“-Quem era Jorginho do quarto doze?” todos se perguntavam...
 A voz grita novamente:
“- Ele era o Bule do chá das cinco...”
E em um suspiro quase que coletivo a resposta foi dada por Maomé:
“- O bule do chá, mas claro, como poderemos fazer o chá das cinco sem o bule? Ninguém respondeu. “- Bom, já que não temos bule para o chá, vamos hoje um velório preparar, o morto nós já temos, mas quem será o caixão?”



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