Vou até o cemitério mais próximo
desenterrar um corpo
um pedaço podre
do passado de alguém
só espero que minha cova
não vire alvo de outro também
se os cadáveres deles cheiram mal
imagina o meu
perfume que não há de ser
Na cova rasa vermes
lembranças corroídas
de uma pessoa desconhecida
que pena que senti
o verme era o corpo
e não o outro
Apodrecido de dentro para fora
como em vida
mas fora de uma cova
agora estendido
mãos sobre o peito
terno preto surrado
olhos esbugalhados
um cadáver
de um passado
esquecido
enterrado
Mas para minha surpresa
em uma pedra fria
vejo as palavras
as últimas daquele morto
uma poesia
que eu já conhecia
a poesia final
de um poeta
morto
pela foto não tive duvida
e a certeza acertou meu peito
aquele era eu
ou o que fui
ou o que vou ser
e as palavras escritas
como meu julgamento final
...Das palavras em vida
para uma cova fria
do calor da vida
para uma escuridão vazia
quem poeta nasceu
como poeta morreu
pelas palavras
pelas rimas
pelos sentimentos
roubados e transcritos
como um ponto final
assim eu termino
para meu retorno aos livros...
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