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domingo, 20 de julho de 2014

Uma Última Dança - Part I

Um quarto tão comum, frio e quase sem vida, enquanto observava as paredes de tom branco creme Rosalina só desejava estar longe dali, longe daquele barulho compassado dos aparelhos que lhe davam alguns dias de vida, ela sabia que longe daquela sala não duraria mais do que uma hora, mas naquele momento sabia que suas chances não existiam, desejava ter um fim digno, como uma pessoa, sem aparelhos, sem aqueles barulhos que a atormentavam, aqueles sons de passos no corredor, vozes de desconhecidos e fugir acima de tudo fugir para morrer em paz.
Os mistérios que na vida são escondidos na morte são revelados e pouco a pouco os barulhos cessaram um silêncio perturbador tomou conta da sala, tomou conta dos corredores, da cidade toda e quem sabe do mundo inteiro, Rosalina que de olhos fechados estava abriu delicadamente esperado obter uma resposta, por um lado se sentia aliviada por outro pensava ser a morte que chegava para retirar seu último suspiro.
Ao abrir os olhos ela percebeu um homem sentado logo a sua frente, por um momento a morte lhe fugiu da cabeça, deveria ser um dos médicos, mas logo mudou sua opinião sobre o tal homem, uma visita talvez?
Sua memória não estava lá essas cosias, poderia ser bem isso. O homem deveria ter cerca de setenta anos, as marcas da idade já estavam bem visíveis por seus traços e mesmo assim mantinha um leve sorriso no rosto de uma suavidade jovial e de olhar mais jovem ainda, como se os olhos e o sorriso fossem intocáveis pelo tempo, trajava um lindo terno cinza de recorte simples, mas bem feito, uma gravata longa em um tom marrom escuro, o cabelo lhe fugia da cabeça, mas ainda que fosse pouco era bem penteado totalmente para trás com um pouco de pomada daquelas que não se encontrava mais, ele todo era do tipo de pessoa que não se encontrava mais, ele mantinha esse ar do passado que ia muito além de suas roupas, mas pelo modo que falava e gesticulava.
-Boa noite Rosalina.
Por um momento ela pensou se deveria responder ou não, mas aquele distinto homem lhe parecia tão convidativo para uma conversa que não resistiu e respondeu.
-Boa noite, desculpe pelos meus modos, não esperava visita, pois eu nem sabia que tinha visita neste horário e devo pedir desculpa mais uma vez por não me recordar de sua pessoa, você seria quem ?
-Não precisa se desculpar por isso, eu tenho acesso especial para visitas e você não me conhece, pois todos que me conhecem logo se esquecem, não só de minha visita, mas de tudo.
-Mas então quem é você?
-Ora eu tenho muitos nomes Rosalina, sou o fim, a última passagem, a escuridão, o silêncio eu sou a morte e hoje eu vim por você.
Apesar daquelas palavras Rosalina de forma alguma ficou com medo ela já estava preparada para isso há algum tempo, o que lhe intrigava era a aparência da morte, ao menos era uma aparência convidativa  e de ótimo gosto.
-Pois bem, então estou pronta, podemos ir.
-Não é assim que funciona, eu não faço visitas a todos, estou aqui por um motivo especial, lhe conceder uma última lembrança a única que vai levar para seu túmulo ou como estava desejando uma morte digna.
A morte estava cada vez mais convidativa e o que esperar disso tudo pensava ela.
-Nem sei o que pensar, responder, apenas obrigada...
-Ainda não agradeça, temos muito ainda que fazer por essa noite, então levante-se e vá colocar uma roupa apropriada a onde vamos esse seu pijama não seria bem aceito
Atrás de um biombo um lindo vestido longo tão simples, Rosalina gostava desses vestidos simples, gostava do simples de um modo geral, vestido de um tom delicado de pérola, naquele momento ela sabia o que esperar daquela sua última noite e não poderia ser melhor, era uma parte de seu passado que guardava como um tesouro no canto de suas lembranças e dentro de seu peito, pela última vez Rosalina era convidada a dançar...

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