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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Delírio Noturno

Acordei atordoada, perdida sem saber onde estava, tateando o escuro, mas nada encontrava, era como tentar abraçar a própria imensidão da escuridão, por alguns segundo imaginei me abraçando algo que não deveria estar em meu quarto ou se eu mesmo não estaria mais em meu quarto, então onde estaria ou o que havia em minha frente que minha visão limitada não podia ver?
Arrastei minhas mãos pelo chão até encontrar uma parede, por ali me guiei até o interruptor ao lado da porta, por alguns momentos fiquei cega com a luz intensa da lampada que brilhava logo acima de minha cabeça, esfreguei meus olhos até retornar minha visão normal, mas nem tanto assim, estava um tanto que embaçado, meus olhos ardiam era como se estivessem queimando de dentro para fora.
Sentei em minha cama, esperando retomar o controle de meu corpo e de minha mente, pouco a pouco estava lúcida novamente, mas meus olhos me preocupavam, levantei-me ainda com certa dificuldade, me arrastando pelas paredes, consegui alcançar o banheiro, precisava tomar alguma das pílulas que guardava para qualquer ocasião, após um caminho tortuoso consegui enfim chegar perto do armário, tomei a primeira que minhas mãos puderam alcançar.
Aquela dor latente persistia e eu começava a me preocupar, liguei a torneira, enchi minhas mãos com um pouco de água e passei por meu rosto, com o proposito de aliviar um pouco aquela sensação estranha, respirei fundo e busquei a toalha ao lado com minhas mãos, passei por meu rosto até não restar mais nenhuma gota de água, levantei minha cabeça para me ver ao espelho...
Por alguns segundo permaneci em completo terror o que via, o que era aquilo... Poderia ser qualquer coisa, menos eu, com certeza não eu, estava diante de um grande borrão em minha face, era com se todas as cores se misturassem formando uma mancha de tinta, eu parecia estar desmanchando.
De imediato busquei algum lugar para sentar, minhas pernas tremulas não suportavam meu peso, fiquei ali com a cabeça apoiada em meus joelhos e com as mãos na cabeça, pensava em algo, pensava em tudo, mas em nada chegava, ao levantar minha cabeça percebi que agora minhas mãos pareciam um grande borrão, eram mãos ainda, podia senti-las, mas pouco a pouco pareciam se desmanchar, chorei em silêncio, minhas lágrimas caiam abafadas ao meu colo, entre uma lágrima e outra pude escutar um som ao fundo, não conseguia distinguir, mas era algo, algo que precisava saber, devia estar ligado aquele estranho acontecimento e ficar ali e virar um grande borrão na parede do banheiro não era uma opção.
Segui pelo extenso corredor entre o banheiro e a sala, a cada vagaroso passo que dava mais nítido o som se tornava, era algo com um bater, um estalar de um som metálico, podia ver uma luz e uma sombra na sala, eu não sabia o que ali poderia encontrar, meu coração palpitava e parecia que eu não suportaria mais um passo, mas eu seguia em meu caminho, sempre apoiada pelas paredes a minha volta, logo a chegar na sala percebi em um canto isolado algo, um sombra de costas, era uma pessoa isso ficou claro de primeiro, mas quem era?
Chamei com dificuldade, mas nada a tal pessoa não escutava e nem se virava, apenas mexia as mãos a sua frente, não conseguia ver direito, mas parecia estar usando uma máquina de escrever, poderia ser, ao menos aquilo correspondia ao som que preenchia a grande sala, ao lado um pequeno abajur de luz amarelada e nada mais, ao chão muitos pedaços de papeis amassados, logo ao meu lado um deles, para poder pega-ló tive que me escorar na parede e deixar meu corpo deslizar delicadamente até o chão, sentei e comecei a desamassar aquela bola de papel, tentei mais uma vez chamar a pessoa, mas nada, voltei meus olhos aquele papel amarrotado, ele estava com algumas linhas escritas ao certo pela máquina de escrever, passei meus olhos pelas primeiras linhas e o que ali lia era quase tão assustador quanto o fato de eu estar virando uma mancha, na primeira linha dizia:
"Ela levantou-se de sua cama, seu sono era pesado, estava atordoada, perdida em seu próprio lençol e seus sonhos, levantou com grande dificuldade, sua cabeça girava e nada conseguia ver na intensa escuridão da noite tateava as sombras na busca de algo, por alguns segundos pensou que poderia achar algo que ali não deveria estar ou então que em seu quarto não mais estaria..."
Aquilo era eu, ou ao menos algo que passei ao despertar, mas como era possível que um outro ser estivesse a escrever sobre o que sinto e o que vivi?
Novamente levantei-me com a ajuda das paredes, tentava alcançar a pessoa, com aquele pedaço de papel novamente transformei em uma bola e a joguei em direção aquilo que estava a frente da máquina de escrever, mas minha força não era o suficiente, estava ficando fraca cada vez mais fraca, foi quando escutei a máquina parar, o papel foi retirado da máquina e alguém o lia, resmungava baixo, não podia escutar, logo amassou o papel e o atirou para traz sem nem olhar onde cairá, neste movimento senti uma forte tontura e percebi que minhas pernas agora estavam borradas e logo em seguida novamente as batidas nas teclas.
Chegava mais perto, meus dedos se esticavam para alcançar a pessoa, fazia um grande esforço para revelar a face do oculto na máquina de escrever, pude ver mais claramente agora que era uma mulher ou ao menos usava um cabelo razoavelmente grande de cor negra e brilhante.
Ao fim que minhas mãos trêmulas se apoio na cadeira e em um último ato de força a puxei, senti seu peso em minhas mãos, mas logo cai de costa ao chão, minha visão ficou completamente embaçada, não conseguia distinguir os objetos, apenas um era um pouco visível a dita cuja pessoa, percebia estar parada ao meu lado de pé a me olhar, logo se abaixou, pouco a pouco começava a ver nitidamente quem de mim se aproximava, meu coração disparava ao encarar aquela face, aquele rosto conhecia de longos anos, conhecia melhor que outros tantos, quem me escrevia e quem me encarava era nada menos do que a mim mesma.
Apaguei pela última vez com o ponto final em meu próprio texto e me tornei um borrão em uma folha amassada ao chão, perdida para sempre.

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