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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mais Uma Dose Para Chapeuzinho

-Mais uma dose...
Apontava ela para seu copo vazio, jovem menina de doce olhar e nariz um pouco avantajado, quase como seu charme pessoal, nela ficava bem. Uma reluzente capa vermelha cobria quase todo seu corpo e um capuz em sua cabeça completava o visual.
-Não acha que bebeu de mais por um dia, Chapeuzinho?
Ela apenas olhou entre as mechas de cabelo a cobrir seu olhar, apontou para o copo e disse...
-Tanto faz, se bebi ou não tanto faz...
Enchi seu copo, ela parecia precisar de mais uma dose e arrisquei perguntar o motivo:
-O que lhe causa tanta sede de álcool? Isso não vai te fazer bem.
Molhou os lábios com sua bebida e um suspiro e então respondeu:
-Tenho meus motivos e se quer mesmo saber, prepare seus ouvidos e preste atenção pois não tem repetição.
Servi uma dose para minha sede e escutei com atenção.
-Tudo começa com um Era Uma Vez por aqui algo tão clichê, tão sem sentido e tudo termina em um Felizes Para Sempre tão previsível que me dá sono, como deve saber já conhece minha história, do lobo até a vovozinha e tudo mais a cesta de docinhos ao caçador herói. 
Pois então é disso tudo que estou cansada, por que motivo todos os dias este tão trivial viver ?  
Este Era Uma Vez e um Felizes Para Sempre ao entardecer...
Mais uma dose que para falar necessito beber.

Ela tomou um leve gole, parecia estar tomando era coragem para prosseguir.

-Então, cansei dessa coisa toda e um dia simplesmente fugi de minha rotina, não fui pela estrada a fora, nem levar doces até a vovó, não parei na barriga do lobo, nem caçador me salvou, fui ver o que mais existia nesse mundo para mim.
Andei por uma estrada de tijolos amarelos que parecia não ter fim, encontrei um espantalho, um leão e um homem de lata, no começo achei tão interessante aquela novidade, mas a cada meia hora era um verdadeiro espetáculo, nunca vi tanta musica, dança e alegria para tudo que se via, uma pedra no caminho era uma ópera sem fim, nem a tal cidade de Esmeraldas o tal do Mágico e de uma menina Doroteia ou algo assim, não me animavam, imagina viver cantando o dia todo, prefiro a barriga do lobo, quando tive a oportunidade sumi sem nem olhar para traz, corri e corri até nenhuma musica poder escutar.

Cansei de correr, até uma casinha ver, por ali sete pequenos homens, felizes a trabalhar, parecia a casa da vovó, mais de perto então fui espiar, que gracinha eram eles, mas logo veio a decepção, eles tinham uma moça linda e tão branca igual a papel, fazendo o serviço de casa, cozinhando, lavando roupa e tudo que poderia imaginar, ela parecia exausta, não trocaria minha vida para ser empregada de sete anões, meu lugar não era ali.

Mais para frente linda torre, quase tocando o céu e lá em cima uma linda jovem a se pentear e a cantar e lhe digo quanto cabelo ela tinha, imaginei outras coisas que nem é bom falar, o lugar parecia interessante, mas não gosto muito de altura e mais uma vez me fui a caminhar.

Linda loira de vestido azul brilhanta e sapatinho, veja só de cristal, mas que perigo como pode andar naquilo ? Sem falar na tal carruagem de abóbora, totalmente impossível de se respirar que cheiro de podre e as moscas por ali a festejar.

Andei por tudo que possa imaginar, conheci bruxas, feiticeiras, príncipes e toda realeza, mas tudo sempre tão clichê e previsível de se ver, que meu Feliz Para Sempre de todo mal não parecia ser, de tantas pessoas conhecer me pergunto hoje se todos estes não suportam mais seu tédio de viver. 
Pois bem, mas por hoje chega, uma última dose por favor que ainda tem um lobo me esperando para me comer.

Ela virou em um gole só, saiu meio cambaleando e pela porta saltitando e cantando:
"Pela estrada a fora eu vou bem sozinha..."

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