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terça-feira, 4 de novembro de 2014

O Suicida do Quarto Andar

Quem sou eu para dizer quem deve morrer ou não...
Na verdade sou a única que pode dizer, sendo a morte está relacionada ao meu trabalho e meu modo de viver ou morrer, digamos.
Estou a ponto de me aposentar, mas nesses milênios todos de árduo trabalho de muito sangue e de mortes nem sempre gloriosas, aprendi a tirar o melhor de cada morte, já que ela é única e sem volta.
Tenho um carinho special pelos suicidas, sempre tão cheios de si, com aquele desespero, as vezes são melhores que muitos atores, já aplaudi muitos, mas lembro de um em especial, não tanto por ser um suicida, mas por ser Alfredinho o suicida do quarto andar.
Alfredo ou Alfredinho, hoje tanto faz, tinha todos o direito para deixar este mundo e se abrigar em uma cova rasa, corno, Dona Ivone sua esposa, ex esposa , viúva, nunca sei o que usar, digamos que era um tanto que insaciável, algo que Alfredo não estava preparado para suprir , então onde ela foi buscar, no vizinho  do primeiro andar, João Grandão e não digo mais nada.
Uma vida para o trabalho, uma busca desesperada pela tão sonhada promoção, estava pertinho assim ao alcance seus dedos, assim pensava, no fim o jovem, bonitão e de inteligência igualável a de uma porta, mas claro sobrinho do chefe, conseguiu, naquele dia o sorriso amarelo de Alfredo, o mesmo que usou quase qua vida toda, estava mais radiante que nunca, suas bochechas chegavam a doer de tanto sorrir.
Naquela noite foi andando para casa, mas não estava com pressa, passava pelo viaduto quando pensou "e por que não", subiu no parapeito, esperou por alguns minutos, desejando que uma alma caridosa fosse oferecer conforto e frases clichês de livros como:
"A vida é linda, só tem essa, não se deve desanimar, sempre se pode melhorar..." Eu não compreendo até hoje elas, mas enfim, respirou fundo e achou que poderia voar...
Ele sentia dor no corpo, não queria abrir os olhos, não tinha morrido antes, pensava que estava morto, até que escutou as sirenes e logo após apagou.
Acordou algumas horas no hospital com a bela noticia de que havia caído em cima de um casal de jovens namorados que estavam passando, os dois estavam mortos e Alfredinho com uma perna quebrada.
Uma semana já estava em casa e o pensamento do suicídio só aumentava, primeiro algo clássico enforcamento na sala, corda velha, arrebentou antes mesmo de ficar roxo, arma na boca uma lágrima no olhar e puf, o tiro saiu pela culatra, na verdade nem saiu, veneno, dose pequena, um dia inteiro como rei no trono de porcelana, cagando e vomitando, sei que parece um tanto que desesperador, mas isso é por que não estavam vendo a cena.
Outro dia sol brilhando, Alfredinho encara o sol e percebe o que estava tentando fazer, que não valia a pena, ao certo não era para ele morrer, Deus ou sei lá quem tinha um propósito para ele, foi tudo um teste assim pensou, levantou em um pulo da cama, gritando aos quatro cantos BOM DIA, UM NOVO DIA, NOVA VIDA, estava decidido a conseguir a promoção e ir atrás de Ivone, mas um banho era necessário, cantarolando a água caindo e pela primeira vez ele sorria de verdade em seus quarenta e dois anos, saindo do banheiro desatento não percebeu o chão molhado, escorregou e uma bela testada na pia e foi suficiente ali mesmo caiu e ali mesmo morreu.
Eu apenas ri, quem queria morte gloriosa, morrer peladão no banheiro era de mais e Deus que tinha um propósito para ele, só se fosse o de sacanear bem legal.
E quem pensa que tudo acabou ali, ora uma semana atirado no banheiro, só quando o vizinho do lado sentiu o cheiro que foram descobrir,  é essa vida é uma grande piada sem fim. 


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