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terça-feira, 11 de março de 2014

A Mão Direita de Deus - Terceira Sentença - Part III

Pouco a pouco Moacir começava a abrir os olhos, mas logo percebe que esta imóvel presso a uma cadeira, tenta forçar a madeira e as cordas, mas não obtêm sucesso algum, seu corpo está fraco e sua garganta pede água e sua cabeça inchada pela pancada latejava a cada pensamento.
Não sabia onde estava e nem adiantava tentar descobrir, aquela igreja abadanado não era um lugar que conhecia, ao menos não conhecia mais, em tempos remotos mais precisamente em sua infância, tinha seis anos quando colocou seus pés pela primeira vez naquele local, onde ali apenas ruínas existiam agora no passado era um lindo mosteiro da Ordem Franciscana, sobre aquelas paredes destruídas a consagração era feita todos os domingos, aberta para a pequena população da cidade rural de Santino, claro que Moacir não poderia lembrar disso, naquele momento apenas observava o estranho homem ajoelhado na escuridão logo a sua frente.
-Por que está fazendo isso comigo? Pergunta Moacir 
O homem aproximou-se e respondeu calmamente:
-Você está aqui para sua absolvição meu irmão, hoje vou lhe conceder a vida eterna e tirar de sua carne os pecados terrenos, você é filho do pai e hoje ao raiar do sol vai estar ao lado dele.
-Louco! Você é louco, o que pensa que é para fazer isso comigo, vamos me solte, eu quero sair daqui...
O homem sorriu, em seus lábios um sorriso doentio e sombrio, com a voz calma como sempre respondeu:
-O que eu penso que sou? Eu sou a mão direita de Deus, sou seu filho mais justo e aquela mais cruel, eu sou o amor do pai e a tristeza dele com sua crianção, o que sou ora eu sou ele, sou parte de sua justiça, eu sou Deus.
Moacir riu histericamente, já não tinha controle de suas emoções, era uma mistura de medo, tensão e raiva.
-Deus? Você pensa que um maluco como você é Deus, você não passa de um louco, louco é isso que é.
Agora era o homem que sorria:
-Vamos ver se eu sou louco mesmo.
Logo sumiu na escuridão, retornou em alguns minutos, em sua mão um grande caixa de madeira e uma bíblia recoberta por couro com uma grande cruz em sua frente, trouxe junto algumas velhas, que espalhou pelo local, enchendo o ambiente com uma luz opaca e amarelada.
Abriu a caixa e retirou dela uma cruz fundida em ferro, abriu a bíblia e escorou o pedaço de metal sobre a chama de uma das velas que estava ao seu lado.     
-Tudo que preciso está aqui nestas palavras, nas palavras de salvação, Romanos 8:23 que diz assim: "E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa doação como filhos, a redenção do nosso corpo."
 Moacir arregalava os olhos, não sabia o que olhava, parava e observava o metal que com o calor da chama esquentava e cruz que ficava pouco a pouco avermelhada ou ao homem ajoelhado aos seus pés lendo aquilo. Em sua cabeça muitas coisas se passavam, todas elas não eram boas saídas, o que poderia esperar de um demente como aquele? 
Ele fechou a bíblia levantou-se e abriu sua túnica, botão por botão e deixou cair sobre seus pés.
O que Moacir via era a confirmação da demência do homem, em seu peito muitas marcas em forma de cruz, provavelmente feitas pela cruz que esquentava na chama da vela, a pele queimada, cicatrizada e outros feitos recentemente.
-Você está vendo agora? Como aqui a loucura não existe, aqui é apenas a mão de Deus, a mão que me sustenta.
Ele tomou em suas mãos a cruz por uma haste de ferro e enquanto aproximava o ferro quente de seu peito dizia: 
 -Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Lugar Santíssimo, de uma vez por todas e obteve eterna redenção.
Logo após o silêncio tomou conta e a escuridão envolveu os dois no ar um forte cheiro que misturava, pelo, pele e carne queimada misturava-se aquelas ruínas misturava-se aqueles homens.

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