Com muito cuidado ele mantinha seu jardim, ele o dono
não tinha muitas preocupações estas quando as tinha se resumia ao seu precioso
jardim era um cão cagão de um vizinho que pensava que suas belas flores
necessitavam de adubo fresco ou alguma criança que pensava que suas pequenas estátuas de gesso eram brinquedos.
Sua vida se resumia a cuidar e manter tal jardim,
até seu nome lembrava um, Florindo ou Seu Florindo como era conhecido,
aposentado e morador mais velho do bairro, todos sabiam de sua obsessão com seu
jardim e ninguém ousava por os pés em seus canteiros, um que outro desavisado
ou descuidado, mas todos tinham um cuidado muito grande, pois sabiam que Seu
Florindo não era uma flor que se cheirava bem, pisar naquele solo sagrado era
briga na certa.
Seu Florindo tinha hábitos e costumes iguais, acordava
todos os dias sempre no mesmo horário, sete da manhã em ponto não era seis e
cinquenta e nove muito menos sete e um, sempre às sete horas.
Tomava seu café sempre com muitas frutas, seu
Florindo apesar de ter seus sessenta e poucos estava bem conservado, em perfeita
forma física e mental. Logo após estar alimentado se dirigia ao seu belo
jardim onde se ocupava entre cuidar e manter aquele belo espaço, seu maior
orgulho, parando apenas para almoçar ou se refrescar, ficando entre flores e estátuas até o por do sol, após isto se trancava em casa sem sair nem espiar
pelas janelas.
Sua vida era assim, jardim, casa, casa e jardim, não
era de sair muito nem de se relacionar com os vizinhos, para ele todos tinham
inveja de seu jardim e todos queriam acabar com ele, quem sabe seu Florindo
ficou um tanto que fora de si depois de tantos anos cuidado daquele jardim,
aquilo era sua vida e nada mais importava.
As brigas eram constantes com seus vinhos ou
qualquer pessoa que se aproximava de mais de seu jardim, seu Florindo guardava
aquele espaço de flores como um cão ao seu osso, só faltava rosnar para
qualquer um que chegasse perto, bom não faltava muito para isso mesmo.
Mas tinhas três pessoas em especial que Seu Florindo
via como uma ameaça eminente ao seu recanto floral, seu vizinho da frente
Gerson era uma ameaça ele e seu cãozinho bidu muito bonitinho, mas cagão de
mais e o melhor de tudo fazia do jardim de Seu Florindo seu banheiro
particular.
-Eu já falei que minhas petúnias não são precisam de
bosta de cachorro. Cão do inferno se eu pegar esse bicho nojento aqui mais uma
vez eu vou moer ele e misturar com o adubo para o jardim.
Tinha o Carteiro Sergio, um bom homem, mas
descuidado sempre pisava nas flores de
Seu Florindo, nunca era proposital, mas como sempre acontecia o velho
achava que era só para provocar.
-Carteiro burro! Minhas flores não são feitas para
pisar, acha que são de plástico infeliz? Você sempre pisa nelas, sempre! Eu vou
te denunciar para a central ai sim quero ver onde vai pisar quando for colocado
para rua.
E por último, mas sempre com ótimas intenções com as estátuas de gesso de Seu Florindo, Rafael era filho da Dona Maria, ele adorava
brincar de tiro ao alvo com um batoque o alvo era certeiro às estátuas de Seu
Florindo, o menino tinha uma boa pontaria não errava uma.
-Mais uma estátua quebrada! Moleque mal criado, se
sua mãe não lhe deu educação eu vou te dar a base de chinelada nessa sua cara,
eu vou te pegar ainda e vou brincar de tiro ao alvo com sua cabeça.
Aquilo era quase que diário todos sabiam de como Seu
Florindo tratava qualquer um e sempre evitavam falar ou ate mesmo olhar para
ele.
Naquele dia
Seu Florindo acordou como de costume e tomou se café tudo como sempre, ao ir
para seu jardim não podia acreditar no que via diante de seus olhos, seu
precioso jardim totalmente destruído, acabada e arrasado. Eram flores
arrancadas, estátuas mutiladas, dilaceradas e destruídas.
-Não acredito nisso, como assim meu lindo jardim!
Não importa quem fez isso, vai pagar caro por ter feito isso com minhas flores
e estátuas.
Seu Florindo não pensou muito, tratou logo de ir
arrumar tudo e deixar seu jardim belo como sempre, naquele dia nem parou para
almoçar ou descansar foi ate quando podia enxergar, tudo para seu jardim ser o
que era antes.
Ao fim do dia o jardim estava belo como sempre fora,
tudo em seu lugar, estátuas e flores lindas como sempre, ele estava exausto,
mas ainda queria pegar o salafrário ciumento que acabou com seu jardim.
Entrou em casa, tomou um banho comeu algo e mesmo
cansado não foi se deitar, escondido entre as cortinas de frente para uma grande
janela que dava para o jardim ficou Seu Florindo, esperando o desgraçado
aparecer e na calada da noite destruir novamente o jardim.
As horas foram passando e nada do destruidor aparecer,
com as horas passando Seu Florindo foi se cansando e adormeceu. Acordou apenas
de manha às sete horas como sempre fazia ao abrir os olhos via seu jardim
destruído mais uma vez assim como no outro dia.
-Eu não acredito novamente esse desgraçado, mas isso
não vai ficar assim, não vai mesmo.
Novamente Seu Florindo passou o dia todo arrumando
seu jardim, parou apenas para ir ate uma loja ao centro e comprar uma câmera de
vídeo para poder filmar o desgraçado que gostava de brincar a noite em seu
jardim, já que não podia confiar em ficar acordar se dormisse mesmo assim
saberia quem era o infeliz.
Ao fim do dia tudo em seu lugar novamente, belo e
magnifico jardim, talvez até mais lindo ainda que antes, cansado novamente Seu
Florindo se posicionou na janela e escondido entre as cortinas esperava ao seu
lado a câmera apontada para o jardim, naquela noite ele descobriria quem estava
fazendo aquilo ao seu precioso jardim.
Com o passar das horas Seu Florindo adormeceu
novamente e acordou às sete horas do outro dia e como podia esperar seu jardim
destruído mais uma vez.
-Desgraçado você fez de novo, mas desta vez você não
vai me escapar eu tenho tudo gravado aqui.
Logo ele correu e pegou a câmera para enfim
descobrir quem era que destruía seu jardim.
Ao olhar a gravação não podia acreditar no que via,
não era possível o desgraçado que tinha ciúmes de suas flores, era ele próprio,
Seu Florindo em um acesso de loucura ou sei lá o que destruía seu jardim à
noite, como uma dupla personalidade uma escondida da outra, um que cuidava
outro que destruía.
Ao fim ele mesmo tinha ciúmes de seu próprio jardim
e assim era durante o dia ele cuidava e arrumava pela noite ele mesmo destruía
e arruinava.
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