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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Olhos de Vidro

Os vidros que tinha em seus olhos não eram apenas os de seus óculos. Seu olhar também se cristalizou, refletindo o que os outros representavam nela. Atrás dessas lentes que pareciam ser permanentes, havia olhos que desejava, sentia e chorava . Mas a cima de tudo buscava a todo instante sua liberdade, fora da prisão de vidro, onde os reflexos que via não eram os seus, mas sim os dos outros a sua volta. Por muito tempo ficou nessa situação, sem poder ver por seus próprios olhos, mas com o passar do tempo sua sede e seu desejo de ver conforme sua vontade se tornou mais que uma necessidade, tornou-se sua saída para seu próprio mundo, este lugar que ainda não conhecia. Dia após dia, exprimia em seus olhos uma raiva, aos poucos seus olhos de vidro foram rachando, longas fissuras por sua visão de cristal. Pelas fissuras podia agora espiar o mundo que representava, podia agora de fato ver com seus olhos. Mesmo de uma forma limitada espiava o mundo, que fazia sua vontade aumentar cada vez mais, agora os reflexos e representações dos de sua volta não lhe faziam absolutamente nada, parecia que na mesma medida que seus olhos fossem se rachando sua própria vontade prevalecia. Contudo não era fácil desvincular o mundo criado a sua volta ou esquecer as cores e formas de um lugar criado para você é não por você. Seus questionamentos também não tinham fim, somente sua liberdade era certeza. Dor após dor, raiva após raiva suas lentes se despedaçavam em pequenos fragmentos até não restar nada. Pela primeira vez podia ver por completo o que de fato existia, podia agora opinar e olhar para onde queria, almejava o fim do mundo o infinito de qualquer coisa, sentia em seu corpo sua liberdade que fazia querer voar. Podia fazer tudo e tudo queria fazer, tomada por sua liberdade que tanto buscou ela caiu e não mais se levantou, sucumbiu a sua própria liberdade.

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