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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A Mão Direita de Deus - Primeira Sentença

Sou despertado bruscamente de meu sono, abro os olhos e encaro o relógio ao meu lado, são cinco horas de uma quarta-feira, fecho meus olhos novamente esperando que o telefone pare de tocar, mas ele não para e insiste em me tirar da cama.
Levanto-me com uma preguiça que nem imaginava que tinha, consigo chegar ao telefone que ainda toca, retiro do gancho e levo até minha orelha, não digo "Alo", mas solto um resmungo, algo que nem eu compreendia, talvez um RUM ou um HUM, não sei.
-Delegado Coneli, Delegado... ?
Eu pensei por alguns segundos em não responder e desligar o telefone e retornar para minha cama, mas sabia muito bem de meus deveres e contra minha vontade respondi. 
-Sim, Coneli falando, o que quer?
-Desculpe tirar você da cama a está hora, mas delegado temos algo que o senhor deve ver.
Anotei o endereço do local onde o agente me aguardava.
Rua Florença numero 143, aquele endereço me era um tanto que familiar, mas não recordava de momento.
Troquei de roupa, dei um beijo de boa noite em minha pequena filha que dormia como um anjo em sua cama e avisei minha esposa que retornaria em breve.
Já dentro do carro tentava imaginar o motivo de minha presença em tal lugar, com toda certeza um crime, mas em meus vinte anos dentro de uma delegacia já tinha presenciado de tudo um pouco, o que poderia estar me aguardando naquele endereço que me era familiar com toda certeza não seria novidade para mim.
Ao chegar ao endereço reconheci o local de imediato, era uma igreja, uma simples igreja, mas linda com entalhes por toda sua fachada, logo em sua frente encontrava-se uma grande estátua de São Pedro, esculpida a mão por um homem muito habilidoso, em sua mão direita ele assegurava uma cruz e na outra um pequeno livro, no qual imaginava ser a bíblia. Conhecia muito bem aquele igreja, foi ali tendo como testemunha São Pedro que me casei e batizei minha filha.
Ao lado de uma grande porta de madeira escurecida com entalhes de passagens bíblicas estava o agente Jaques, um jovem recruta, tinha ainda em seus olhos aquele brilho dos novatos, tinha apenas vinte anos, era dedicado e empolgado, magro e alto de cabelo curto e de olhos pequenos, mas atentos como de um lobo.
-Que bom que chegou delegado, mais uma vez desculpe por tirar você de casa a essa hora...
Interrompi bruscamente sua fala, queria saber o motivo de minha presença ali.  
-Chega de conversa, me diga logo por que motivo estou aqui, as cinco e meia da madrugada? 
Os olhos de Jaques pararam e sua boca ficou muda, alguns segundo passados ele falou:
-Melhor eu lhe mostrar Delegado, venha comigo.
Entramos pela grande porta de madeira escura, aquele lugar estava igual de quando aconteceu meu casamento, o teto era todo pintado por imagens de santos, grandes janelas com desenhos em tons claros que facilitavam a luz entrar, logo a frente um grande altar, com uma vela acessa, percebia que havia alguém ajoelhado em frente aquela única vela, não conseguia distinguir quem era, mas imaginei ser uma devoto fazendo suas orações.
Ao chegar próximo reconheci a tal pessoa, era o Padre Nestor, o mesmo que havia feito minha celebração de casamento e batizado minha pequena filha, quando coloquei meu olhos nele, compreendi por que havia sido chamado, compreendi também que aquela cena era algo novo e incompreensivo para mim. 
Padre Nestor estava de fato ajoelhado, com suas mãos em sentido de oração próximo ao seu queixo, ela havia feito sua última oração.
Ele estava preso ao chão, uma grade de metal atravessava seus joelhos e coxas, passando por sua barriga saindo por seus ombros, e entrando novamente por seus braços assegurando suas mãos, ele estava definitivamente pendurado ali em posição de oração, condenado a orara para sempre, a sua volta não havia sangue, ao que parecia ele apenas foi colocado ali, era como um enfeite da igreja, parte da decoração, entre suas mãos havia um pequeno bilhete, era um recorte, uma passagem da bíblia, Isaías 13:9 que dizia: Vejam! O dia do Senhor está perto, dia cruel, de ira e grande furor, para devastar a terra e destruir os seus pecadores.

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